Viva a República
"...feelings and thoughts can crystalize on the sidelines, whereas the center, because of it's tendency toward what is average and moderate, would reject them"
A table for one, Aharon Applefeld
As sondagens estavam certas. A PAF ganhou as eleições. O Governo do Miguel Relvas foi reeleito. Portas será de novo Ministro. A primeira figura do PSD a congratular-se com a vitória foi o recém-regressado do exílio mediático Marco António Costa. Nestes momentos é fácil sucumbir ao cinismo ou, pior ainda, à sobranceria, curiosamente no dia em que se comemora a implantação da república.
Em período eleitoral não havia esperança de que era possível acabar com a contra-producente austeridade. Na verdade essa opção nem chegou a ser dada aos eleitores. O PS com medo de ser considerado rebelde recusou-se a dizer "não", optou por um "sim, mas..." - uma austeridade homeopática. Muito provavelmente um PS que tivesse optado pela primeira hipótese teria igualmente perdido face ao espartilho ideológico da UE e ao risco demasiado elevado que isso representa para a maioria dos eleitores.
Mas é nestas alturas de consenso ideológico, forçado ou não, que é fundamental que as ideias diferentes, das franjas sejam apresentadas, discutidas, mesmo sem adesão substancial dos eleitores ou a possibilidade de em determinado contexto ser posta em prática. Não é uma questão de se ter razão em termos puramente teóricos. Simplesmente a percepção que algo pode ser diferente, que certas ideias maturadas e melhoradas podem transformar a comunidade num determinado sentido, é o que torna a democracia especial e merecedora de se lutar por ela.