Uma saída que é uma limpeza...
Ontem, no Telejornal da RTP, enquanto se dizia que o governo se havia remetido ao silêncio até à decisão e anúncio de hoje, os gráficos na parte inferior do ecrã já anunciavam em letras grandes "Saída Limpa". Tudo indica, já há várias semanas, que será essa a decisão e que o governo irá apresentá-la como o resultado do sucesso da sua política de aplicação escrupulosa e entusiástica do memorando da Troika. Esta é a nova "narrativa" que dominará o discurso daqui para a frente no governo português e um pouco por toda a Europa nos países e intituições que decidiram esta forma de lidar com a crise do Euro. O "sucesso" do programa português é a validação de que as actuais lideranças de vários países e da Comissão Europeia, dominados por uma certa direita, desesperadamente necessitam para terem sucesso nas próximas eleições, manter a Europa no caminho em que se encontra e para evitar qualquer tipo de reforma profunda do funcionamento da UE e da zona Euro.
Logo à noite, quando ouvirmos a declaração do Primeiro Ministro, as suas palavras deverão ser lidas também no contexto europeu. A escolha por uma saída limpa é uma escolha politica, por muito que nos atirem com números de taxas de juro e com promessas de uma autonomia política recuperada.