Tragicomédia Re-Dux
Não deixa de ser caricato que, quem tanto se insurja contra a praxe, faça gala de ter passado qualquer coisa como duas horas a praxar pessoas na televisão.
É possível que sejam em bem maior número as pessoas que gostam da sensação de confrontar os outros para ver se os desperta, para ver se lhes explica (queria evitar utilizar a palavra "ensina", porque se procura exactamente o oposto, que os próprios se ensinem a si mesmos) alguma coisa que não vem nos livros do que aquelas que o reconhecem publicamente.
A praxe é, para mim, sobretudo isso, tentar que os outros percebam que merecem o que aceitam e que, se não gostam daquilo que os pretendem obrigar a comer, não necessitam de mais do que dizer não e contrariar, no seu quotidiano, tudo aquilo com que são confrontados e que abominam.
Que tudo isto ande a reboque daquelas reportagens de "diz que disse" da TVI e do Correio da Manha, de quem tanto se disse noutras ocasiões e de quem se poderia continuar a reprovar a conduta lamentável da exploração das fatalidades com fins economicistas, podia ser só cómico, mas é, sobretudo, trágico.
Enfim, se não tivesse havido uma razia tão grande nas bolsas da FCT para as ciências sociais (ah, a praxe institucionalizada!), talvez alguém nos pudesse explicar, a cada um de nós, qual é o nosso papel nesta história. Assim sendo, teremos todos que fazer um esforço adicional para tentar perceber.