Basta dar uma passagem de olhos não muito aprofundada pelos comentários ao desempenho deste Governo para se perceber que os únicos que ainda acreditam num eventual volte-face das condições em que se encontra o país é mesmo o próprio executivo.
Até as vozes mais insuspeitas de ambos os partidos da coligação já não escondem não só as críticas ao desempenho como o manifesto incómodo pela fraca cosmética operada com a saída do ponta de lança político, encarnado como a mais odiosa figura governamental desde a queda em desgraça do Conselheiro de Estado, obrigado a procurar refúgio temporário em Cabo Verde.
O mais curioso é que falar em queda do Governo parece ser exclusivo dos suspeitos do costume, leia-se PCP/PEV e BE. Já se percebeu - como se dúvidas houvesse - que do Presidente da República nada se pode esperar a este propósito. Tivesse Cavaco Silva vencido a eleição a Jorge Sampaio em 1996 e provavelmente Santana Lopes teria cumprido todo o mandato herdado de Durão Barroso. Diferentes tipos de magistratura de influência.
A questão é que não é só em Belém que podem fazer cair o Governo. Do Largo do Caldas também há a prerrogativa de quererem, ou não, manter uma coligação que de saudável já nada tem, contaminando ainda mais o país.
Há um só pormenor, que Passos Coelho fez questão de recordar aos portugueses no início de uma caminhada que avisou ser de enormes sacrifícios. Pormenor que, agora, chegou a vez de ser o país a devolvê-lo: Paulo, que tal sair dessa zona de conforto e fazer um favor ao país deixando cair a coligação que suporta o Governo? Pode até invocar o interesse nacional. Justifica-se plenamente.