"Muitas vezes diz-se ‘mas só agora é que estão a prestar atenção aos consumos intermédios? O que andaram a fazer nestes três anos?’ Em 2010 gastávamos 8,9 mil milhões de euros em consumos intermédios. Essa fatura baixou em cerca de 1,6 mil milhões de euros."
(Pedro Passos Coelho, numa "entrevista" à SIC esta semana)
Sobre a alegada "entrevista", não vale a pena pronunciar-me. A Mariana, recorrendo a uma imagem, explicou tudo.
Mas há certas "incoerências" (e aqui estou a ser muito simpático) que não devem passar incólumes, sob pena de, como disse Passos Coelho, deixarmos que se criem ideias que não são corretas. "As pessoas repetem e depois pensa-se que é verdade", disse ele.
Pois. Mas a verdade, que pode ser repetida livremente, é que, como escreve hoje o Jornal de Negócios, nos últimos três anos os consumos intermédios tiveram "uma contracção de 1.634 milhões de euros. A maior variação anual ocorre em 2011, com uma quebra de mais de mil milhões de euros. Grande parte dessa correcção deveu-se ao registo em contabilidade nacional dos submarinos "Arpão" e "Tridente".
Como? É que a compra dos submarinos foi contabilizada em 2010, engordando em 880 milhões de euros a factura com consumos intermédios. No ano seguinte, como se tratou de uma despesa irrepetível, esses 880 milhões desapareceram automaticamente, dando uma ajuda preciosa ao número apresentado por Passos.
Excluindo essa operação extraordinária, o Governo cortou até agora 754 milhões de euros em consumos intermédios."
A um Primeiro-Ministro exige-se mais do que apenas um penteado arranjado e uma voz de barítono.
De um Primeiro-Ministro espera-se que seja capaz de construir frases percetíveis e gramaticalmente corretas.
Um Primeiro-Ministro, em particular nos tempos desafiantes que atravessamos, não pode ter o escandaloso nível de confusão mental que foi revelado, uma vez mais, esta semana, na referida "entrevista".
Mas infelizmente para todos nós, Pedro Passos Coelho não só revela lacunas que são inadmissíveis a qualquer pessoa que ocupe um cargo de responsabilidade, como faz questão de somar a estas falhas um conjunto de mentiras, cuja perceção é óbvia, sempre que se dirige ao país.
(também aqui, pelo Rui Cerdeira Branco, no Facebook)