Neutros uma ova!

Sicherheit schaffen=criar segurança
Sempre me fez confusão a suposta neutralidade da Suíça. Bom, na verdade, a neutralidade em geral, mas a da Suíça é que vem ao caso. A neutralidade ou a abstenção é uma espécie de assobiar para o ar em qualquer matéria em que se seja chamado a dar a opinião. Um indiferença que incomoda e que não raras vezes acaba por influenciar negativamente o desfecho de qualquer consulta, seja ela de que natureza for.
A neutralidade da Suíça deu muito jeito na Segunda Guerra Mundial (já vinha da Primeira) a todos os lados do conflito. Mais tarde, nem sentiram sequer a necessidade de fazer parte de um projecto europeu, social e económico, dadas as garantias de estabilidade que o país sempre gozou e continua a gozar. Mas a Suíça não é, propriamente, o modelo de sonho, pelo menos ao olhos de quem está de fora.
Recorde-se que o grande escândalo que deu notoriedade ao WikiLeaks, projectando-o no mundo da informação, esteve relacionado com as práticas "pouco ortodoxas" de um banco suíço, designadamente o Julius Baer. Mas um facto parece incontornável: a Suíça continua a ser um paraíso fiscal, um porto de abrigo, a quem quer fugir aos respectivos fiscos nacionais.
Esta decisão saída do referendo em estar "contra a imigração em massa" transpira a medo do mais mesquinho que existe. Vem aí os imigrantes para roubar trabalho e dinamitar os 3 por cento de desemprego. Ideia que os próprios suíços (pelo menos aqueles que foram entrevistados pela televisão) recusaram liminarmente. Foi, aliás, dito por alguns até que foi a imigração a ajudar a Suíça a ser o que é hoje.
A imigração deve ser, regra geral, sempre vista dessa forma. Não faltam exemplos na Europa que confirmam a ajuda dada pelas massas de imigrantes a países necessitados. A Alemanha é uma delas e a França também.
O exemplo dado pela Suíça com o resultado do referendo, já colocado em causa pela União Europeia, é da tal forma estapafúrdio, que o sintoma mais crítico de que a medida é altamente xenófoba veio da França. Marine Le Pen achou tão boa ideia que quer fazer o mesmo no país que deu ao mundo o lema da Liberdade, Igualdade e Fraternidade. Não é preciso nenhum referendo para se perceber que a ideia é, no mínimo, estúpida.
Estão a abrir-se feridas na Europa difíceis de prever o seu desfecho. A Ucrânia surge como outro foco de problemas, talvez longe da Península Ibérica, mas um perigo e ameaça reais para, por exemplo, os alemães que estão praticamente ali ao lado. A primitiva perseguição das autoridades russas à comunidade LGBT é outro sintoma que a União Europeia devia tomar mais em atenção. É inacreditável o que acontece nas ruas de várias cidades russas, carregadas de intolerância e que invariavelmente acabam até por passar uma má imagem dos povos.
Portanto, que não se fale em neutralidade suíça. Agora escolheram claramente um lado: o de virar as costas à Europa e da forma mais grotesca possível.