Freguesia da Cunha Baixa, concelho de Mangualde.
Numa noite de inverno, a igreja restaurada, o brilho e a claridade. A gente da terra, sentada. O padre da paróquia não tinha 30 anos. Vestindo um fato comum com gravata colorida, apresentou um espectáculo de coros na sua pequena igreja.
O primeiro coro formou-se em frente ao altar, caras nervosas, peles curtidas por anos de trabalho ao sol, sacrifício, determinação. Sorriem para algumas caras bonitas, maquilhadas, peles resplandecentes de frescura e de urbanidade.
Ouço cantar espirituais negros, peças do cancioneiro popular português, Bach.
Bach?
Bach.
Não era o coro da Gulbenkian, era mais bonito do que o coro da Gulbenkian. O padre entretanto lá no meio, assumindo o seu naipe barítono, igual aos outros, obedecendo a um maestro que faz das tripas coração para que saiam sons ordenados daquelas vozes ignaras.
Esta gente cujo rosto
Às vezes luminoso
E outras vezes tosco
Ora me lembra escravos
Ora me lembra reis
(Esclarece-me Sophia)