A inveja e o ressentimento de certos militantes da esquerda pura e patriótica e verdadeira e proletária e 'assim se vê a força do PC' e coiso & tal pelo eurodeputado independente Rui Tavares é já uma história velha e conhecida. Têm lá os seus complexos, o que é que se há-de fazer.
O novo fascículo dessa saga do ciúme enraivecido foi esta posta do Tiago Mota Saraiva. Pois bem, mas aqui o camarada tem um probleminha: é que eu sou um dos jovens cujo nome não lhe interessa. E como tal, eu, pessoa sem interesse para o Tiago Mota Saraiva, vou fazer um esforço para lhe explicar como funcionou a coisa, não vá ele ficar com dúvidas e andar a difamar gente.
Então foi assim: o Rui Tavares, contrariando uma moda comum, decidiu que em vez de escolher a dedo 15 jovens para participarem e intervirem numa conferência em Bruxelas sobre o impacto da crise europeia na juventude, iria seleccioná-los (ele não tem um Comité Central que lhe trate disso, 'tá a ver?) através dum concurso onde qualquer pessoa cuja idade estivesse entre os 18 e os 35 e que residisse em território português poderia participar enviando um pequeno ensaio sobre a presente situação da União Europeia na perspectiva da juventude (se tiver curioso pode espreitar aqui e aqui, que não apanhará nenhuma doença). 116 pessoas concorreram e, passado umas semanas, foram anunciados os 15 vencedores. De modo a não se desperdiçarem as ideias e reflexões dos textos enviados, o Rui Tavares sugeriu-nos que, em conjunto com os outros 101 participantes do concurso, transpuséssemos e sintetizássemos todo o nosso pensamento para um documento, um manifesto, que reflectiria os nossos receios e preocupações, mas também as nossas concepções sobre a direcção que o projecto europeu deveria tomar. Tendo todos os vencedores aceite o desafio, criou-se um grupo privado no Facebook onde todos os 116 concorrentes foram convidados a participar (tendo 67 aceite o convite) e onde, após duas semanas de debates, sugestões, discordâncias, (inúmeras) votações e múltiplos documentos no GoogleDocs, chegou-se a um resultado final na segunda-feira passada, apresentado em Bruxelas dois dias depois.
O camarada Mota Saraiva acusa-nos de sermos assim uma espécie de marionetas do Rui Tavares. Todos os 67, diz ele, redigimos aquela coisa possuídos pelas visões do eurodeputado, especulando aliás que terá sido este quem compôs toda aquela cena manifestante. A verdade é esta: o Rui Tavares incentivou um grupo de jovens adultos que não se conheciam de lado nenhum a compor um texto sobre as suas ansiedades e projectos para um futuro europeu. E permita-me, caro Mota Saraiva, aclarar-lhe esse espírito desconfiado: o Rui Tavares não mexeu nem interveio em uma só página, linha ou palavra de todo o manifesto. E da única vez que membros do grupo solicitaram a ajuda dos assistentes do eurodeputado para a edição e tradução, essa ajuda acabou por ser desnecessária, pois outros membros do grupo voluntariaram-se e editaram e traduziram o documento final. As maiores intervenções do Rui Tavares em todo o processo foram a criação do próprio grupo e a impressão das cópias que foram distribuídas no dia da apresentação no Parlamento Europeu. Fui claro o suficiente?