“Apertem os cilícios”, dizem eles
Dois anos volvidos, estamos sufocados com os impostos mais elevados da era democrática e deparados com uma razia completa da Economia: menos receitas e mais despesas correntes no subsetor do Estado, um saldo global estatal mais baixo, menos consumo privado, menos investimento, um crescimento de dívida superior a 25% relativamente a 2011, menos empresas e menos confiança económica em todos os indicadores (cf. INE, MEE-GEE, OCDE, BdP). Hoje, o desemprego jovem é cerca de 10 pontos percentuais superior a 2011, o número de desempregados e o número de desempregados de longa duração aumentou mais de 20% e quase 25%, respetivamente, no primeiro ano de governação. Este ciclone governamental arrasou as condições de vida dos portugueses e promoveu uma visível degradação da qualidade de alguns serviços públicos, principalmente daqueles que são a base da mobilidade social em Portugal: educação, investigação, transportes, saúde. Em suma, menos igualdade de oportunidades e menos liberdade económica.
Perante o panorama, o Primeiro-Ministro coadjuvado pelo Ministro de Estado e das Finanças, outrora intitulado como a troika minister, insiste na necessidade de apertarmos os cilícios. Até 2015, está prometido: mais 100 mil, desta feita da Administração Central, têm o destino traçado; mais um imposto a aplicar sobre os pensionistas da Segurança Social e da Caixa Geral de Aposentações e a aniquilação do, já de si débil, sistema educativo com cortes que totalizam os 756 milhões de euros (mais do dobro do que o exigido pela versão original do memorando de entendimento). Pedem-nos, sem qualquer pudor, mais sacrifícios, menos desejos supérfluos como desejar ter emprego, mais qualificações, oportunidades, bem-estar. Com lealdade canina, o infértil grupo parlamentar maioritário acompanha inerte a falência do modelo social que custou aos avós da nova geração construir e aos pais solidificar.
São tempos cinzentos estes. Tempo outra vez de Portugal em inho, como escrevia o poeta. Um governo que vive de joelhos subordinado ao tartufo argumentário de que está à frente dos destinos de um protetorado e cujo único interesse é defender os interesses da metrópole. Um governo com os vícios da República que não a foi, das décadas cinzentas que já lá vão. Isto não tem que ser assim.