Digam lá que isto não é um país giro
Segundo percebi, o porta-voz do PSD acusou hoje o governo de mentir sobre o encerramento das repartições de finanças. Tomámos nota.
Saltar para: Posts [1], Pesquisa [2]
Segundo percebi, o porta-voz do PSD acusou hoje o governo de mentir sobre o encerramento das repartições de finanças. Tomámos nota.
Marco António Costa voltou a queixar-se da falta de disponibilidade do PS para o diálogo.
Podíamos falar na recusa do modelo do PS para a discussão da reforma do Estado por falta de tempo, e já lá vai um ano. Ou podíamos falar no facto de o Primeiro-Ministro o único a romper o consenso existente em Portugal favorável à actualização do Salário Mínimo Nacional. Ou falar na reforma do IRC com um alívio fiscal das (grandes) empresas que não convence FMI nem patronato, sobretudo as confederações de pequenas e médias empresas.
Mas basta-nos recordar a notícia de terça-feira em que o Conselho de Reitores formaliza uma rotura inédita com o Governo por desde Agosto não ter qualquer discussão formal com a tutela sobre o Orçamento do Estado. Ó homem, tanto que o preocupa o diálogo, bem que podia começar por resolver o do Governo com o CRUP.
Sabemos que Marco António tem de despir-se de qualquer pudor para poder vestir o fato de porta-voz do PSD. Ainda assim, espera-se que haja não só um "serviço mínimo de democracia" como um serviço mínimo de vergonha. Algo que nem o PSD parece estar disponível para cumprir nem haverá nenhum tribunal que os obrigue.
O porta-voz do PSD, Marco António Costa, defendeu hoje que depois das eleições autárquicas todos os órgãos de soberania e agentes políticos devem unir-se pela estabilidade e para tirar Portugal da situação de resgate.
Durante uma ação de campanha autárquica em Viana do Castelo, Marco António Costa afirmou que "há vida para além do dia 29", e que "essa vida prende-se com a necessidade de todos os partidos, sem exceção, de todos os agentes públicos, sem exceção, terem de dar as mãos para cooperarem naquela que é a missão que este Governo está a levar a cabo, de salvação nacional".
"Eu acredito sinceramente que a partir do dia 30 a nível nacional teremos todos a capacidade - todos, sem exceção: órgãos de soberania, partidos políticos - de dar as mãos, procurar encontrar os pontos de equilíbrio indispensáveis em cada um dos temas que nos possam distanciar e, em conjunto, construir as soluções que são indispensáveis para termos um Portugal estável no médio longo prazo em políticas que são estruturantes para o país", acrescentou.
Aí mê rico senhor, que o homem é um santo. Quer nos unir a todos, num grande espírito de união, num grande momento de unidade, numa grandessíssima união nacional. Beatifiquem-me esta Aung San Suu Kyi do laranjal, canonizem-me este Nelson Mandela do nosso Portugal. Todos juntos, unidos, sem excepção, desde o Bernardino Soares ao Alberto João Jardim, desde a Joana Marques Vidal ao João Baião, desde a Heloísa Apolónia ao Colégio Militar, todos juntinhos, de mãos dadas, em prol da estabilidade inter-tutti-frutti. Marco António Costa vai unir-nos a todos, ficaremos magnificamente estáveis graças a sua senhoria, todinhos, sem nenhuma excepção (ouviste Ana Avoila?). Unidos iremos dar as mãos e louvar a graça e obra do nosso insigne XIX Governo Constitucional, que tanto já fez pelo espírito nacional.
Que nunca te cales meu caro Marco António Costa, que nunca te cales. Esta pátria precisa de ti para a animar nas horas mais cinzentas. És o safardana mais cómico cá do rectângulo, juro.
Que nunca, nunca te cales.
Um dia vão escrever um livro. Um Nobel. Um best seller. Um blockbuster, quando for adaptado a filme. Quiçá vença um Óscar, quiçá vença um Razzie. Mas no dia em que alguém se der ao trabalho de registar para posterioridade o relato histórico da segunda metade da 1ª década e da 1ª metade da segunda década deste nosso século aqui no luso quintal, essa meticulosa pessoa terá que queimar umas pestanas no retrato que fará de Marco António Costa. Pode dedicar umas boas linhas às cusquices do Marques Mendes, registar todas as metáforas coloquiais do camarada Jerónimo ou reflectir sobre a importância de o man dos mercados se chamar Moedas. Mas a personagem do ex-vereador da poupadinha Câmara de Vila Nova de Gaia terá que ter um desenvolvimento à maneira. Pois tão rica é a natureza do ser, que é mais que natural que se lhe faça justiça e se sublinhe o seu papel omnipresente em todo este período. Swaps à parte, o momento até à data de maior valimento foi sem dúvida a célebre noite de 4 de Março de 2011. Nessa fatídica soirée, na paróquia da Nossa Senhora da Lapa, reuniu-se a Escola de Sagres dos tempos modernos que é a Comissão Política Permanente do PSD, onde sua excelência, o cônsul honorário da Bielorrússia (o Miguel tem grandes leitores), declamou a mais gloriosa e patriótica das proclamações: "Ou há já eleições para primeiro-ministro, ou, o mais provável, é termos eleições para a presidência do PSD". O Pedro, pai e cidadão, não terá pensado duas vezes. Ao eloquente rol de falas que o tão brilhante Marco terá nessa futura ccolectânea de factos históricos, juntou-se anteontem, proferida em Santa Comba Dão, uma outra particularmente iluminada: "Para o porta-voz do PSD, é “desejável” que a oposição seja capaz de “garantir o mínimo de cordialidade”, lembrando ter sido responsável por em Maio de 2011 ter “atirado o país ao chão” por culpa de um “conjunto de erros governativos e opções erradas”." Pois bem nobre povo, nação valente e cidadãos piegas desta terra, aguardemos que os historiadores descrevam condignamente este nosso pensador contemporâneo. Com o brio que ele bem merece. E que o Justin Bieber ganhe o Globo de Ouro para melhor actor. Com tanta complexidade mental, Marco António Costa não será uma figura fácil de encarnar. Os biltres nunca o são.
Tradução: a culpa disto tudo é do Sócrates por não ter atirado o senhor Secretário de Estado demissionário para as masmorras. Pois o senhor secretário de Estado do Tesouro, que não fez nada de criticável e é vitima duma campanha caluniosa caracterizada por uma ultrajante baixeza, é um criminoso. E o Sócrates não chamou a policia. Concluímos deste modo que o anterior governo pode estar por de trás deste escândalo nacional, no qual o nosso imaculado Secretário de Estado é o principal bandido. Aguardaremos.
Eu ainda me lembro como era. Grande parte do país tem uma memória com a capacidade do senhor Secretário de Estado do Tesouro, mas eu ainda me lembro de 2006, de 2007, 2008 ou 2009. Ainda me lembro da 'asfixia democrática'. Ainda me lembro do 'temos um governo que quer controlar a comunicação social'. Ainda me lembro da coitadinha da Manela, a da TVI, mártir da causa dos asfixiados, que às Sextas-feiras Santas atacava a besta. Ainda me lembro da outra Manela, a do 'a crise do subprime não passa dum abalozinho', a reclamar que aqui a pátria necessitava urgentemente duma "Politica de Verdade". Ainda me lembro das petições dos escritores amordaçados, dos manifestos indignados com a manipulação governamental, das manifestações pela liberdade de expressão, e de associação, e de pensamento, e do Correio da Manhã. Ainda me lembro do Paulo Rangel aos berros em Bruxelas contra os atentados ao Estado de Direito que se faziam em Lisboa. Ainda me lembro de Miguel Relvas como porta-voz da oposição.
Foram anos disto. Anos deste espectáculo, onde o alegado pior governo do século XXI da democracia da República de sempre era acusado de nos atirar dados manipulados e falseados sobre a sua administração. Que tinha que haver mudança, que isto não era uma sociedade moderna, que não havia transparência alguma, que vivíamos pior que na Serra Leoa. Enfim, que estávamos perante um grandessíssimo lamaçal. Que era necessária 'gente séria'. Era urgente que a 'gente séria' entrasse em acção. Era necessário que a 'gente séria' tomasse as rédeas da nação.
A subscrição é anónima e gera, no máximo, um e-mail por dia.