Ricardo Salgado já foi preso?
Ando há uns dias a fazer esta pergunta no Twitter e, até agora, nada. Nada, no sentido em que ninguém me tem a dizer aquilo que quero ler: "sim, Ricardo Salgado já foi preso". E nada, porque sim, Ricardo Salgado ainda não foi preso. Nem se espera que o seja. Aliás, se há coisa que se tornou normal no país é a impunidade de que gozam os grandes crimes de colarinho branco. Até há relativamente pouco tempo, havia quem ainda se incomodasse com este tipo de crimes, e havia suspeitos, indiciados e presos. Mas como a experiência tentada com o gangue do BPN redundou em nada (nada, quer dizer, nada mesmo: Dias Loureiro, Oliveira e Costa, até o suspeito homicida Duarte Lima, todos continuam por aí, gozando os frutos dos nossos impostos, os que foram enterrados no buraco laranja), a polícia e os magistrados parecem ter desistido de investigar o que quer que seja.
Parece-me sensato. Investigar possíveis crimes da família Espírito Santo é inútil. Inútil e um gasto de dinheiro que o país, em tempo de crise, bem pode dispensar. Há muito por investigar, muito por julgar, tanto ladrão de supermercado ou pequeno empresário fugindo aos impostos à solta, à mão de semear. Investigar fraudes bancárias, off-shores, crimes que lesam o país em milhares de milhão de euros: uma chatice, redundante, estéril e vazia.
Claro que há quem recorde o exemplo de outros países. Há quem se atreva a lembrar os cento e cinquenta anos de prisão a que foi condenado Bernard Madoff ou os outros banqueiros e especuladores norte-americanos presos, julgados e condenados. Minudências. Pormenores. Toda a gente sabe que os EUA são uma tenebrosa ditadura que persegue os empreendedores e castiga a livre iniciativa. Um país que queira realmente progredir, que queira premiar a inovação e a criatividade empresarial, não deve incomodar quem cria riqueza e empregos.
Ricardo Salgado, o homem que em tempos disse que os desempregados preferem receber subsídios a trabalhar, tem razão de muitas maneiras, todas novas e absolutamente brilhantes. E ainda bem que o país desistiu de o perseguir, e que o grande Governador do Banco de Portugal, Carlos Costa, (ao contrário do malandro do Constâncio) está a fazer tudo para que a família continue imune à infâmia que por aí é publicada nos jornais (como alguém já disse, não há qualquer problema no BES, é tudo uma questão de comunicação).
No que me diz respeito, não me importo de pagar ainda mais impostos se me garantirem que grandes homens como Oliveira e Costa, Dias Loureiro, João Rendeiro, Jardim Gonçalves, não voltarão a ser incomodados. Com Salgado, esta nova via de progresso parece estar a ser seguida. Deve ser a isto que se refere o nosso primeiro-ministro quando fala do novo país que está a nascer.