A série sobre a fraude do BPN teve quatro episódios, mas logo ao fim do primeiro percebeu-se que desfecho terá. Poderão até haver culpados, mas ninguém cumprirá pensa de prisão, apesar de se ter tratado de um roubo puro e duro. Pago pelo contribuinte. Se não fosse tão grave pelas verbas já adiantadas, até dava uma novela ou uma série igual à que fizeram com o Ballet Rose. O BPN faz da D. Branca uma merceeira de bairro e a corar de vergonha. Foi precisamente nos dois primeiros episódios que retive dois momentos que considerei fulcrais. Um novo, outro relembrado.
O primeiro foram as declarações proferidas pelo novo presidente da SLN Valor. «Alberto Figueiredo é um homem do PSD. Ex-presidente da Câmara Municipal de Esposende e desde essa altura amigo de Cavaco Silva. Empresário de sucesso e líder de mercado europeu na moda interior masculina" - assim foi descrito por Pedro Coelho, autor da reportagem - diz textualmente isto: «Acho que o dr. Oliveira e Costa sabe muito. E há muita gente que tem muito medo do dr. Oliveira e Costa. Era esse poder que existia que permitia que as coisas não se descobrissem.»
O segundo momento foi uma espécie de memória refrescada. Pequenos excertos das cerca de seis de horas de depoimentos de Oliveira e Costa na Comissão Parlamentar de Inquérito, da qual fizeram parte apenas três deputados: Honório Novo (PCP), João Semedo (BE) e Nuno Melo (CDS). Nesses excertos escolhidos por Pedro Coelho, vê-se sempre o fundador da SLN e antigo secretário de Estado dos Assuntos Fiscais do X Governo Constitucional, liderado por Cavaco Silva, a sorrir, polvilhando até as suas declarações com piadas, terminando com um convite a Nuno Melo para tomar um café para mais esclarecimentos, que o deputado rematou com um "porque não um almoço?" Um autêntico número de circo em plena casa da democracia, mostrando desrespeito pelas instituições que se queriam credíveis mas, acima de tudo, uma falta de respeito pelos portugueses.
O caso é muito mais complexo do que aquilo que tão simplificado foi descrito. Pode até, provavelmente, nem sequer chegar-se a perceber as reais ramificações e o que se perdeu pelo caminho. O dinheiro continua a ser injectado, aumentando ainda mais um buraco que ninguém sabe ao certo o seu valor. O que custa é ouvir falar em incapacidade de suportar o Estado Social, levando as pessoas a acreditar que não são sequer meritórias de ajudas para as quais, muitas delas, contribuíram durante toda a vida para as ter. Eu digo: jamé.