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365 forte

Sem antídoto conhecido.

Sem antídoto conhecido.

23
Mai14

Abdicar da democracia

Sérgio Lavos

Sobre a abstenção e a pureza dos abstencionistas, só me apetece dizer isto: os partidos do poder têm gente que se infiltra nos movimentos e nos grupos que apelam à abstenção. 
Basta parar para pensar um pouco para percebermos quem é mais beneficiado pelo não-voto. A abstenção, os votos brancos e os votos nulos, são excluídos da votação final; não ocupam lugares no parlamento; não legislam, não decidem sobre as nossas vidas; são igual a zero, soma de nada. Quanto mais alta é a abstenção, mas alta a votação nos partidos do poder parece, sobretudo porque quem continua a votar nesses partidos fá-lo fielmente. O verdadeiro voto de protesto não é o de soma nula, é o que é oferecido aos partidos que propõem soluções diferentes para os nossos problemas. A abstenção serve apenas para perpetuar as políticas que nos trouxeram aqui e que estão a destruir o país. Serve a estagnação e a manutenção dos privilégios dos mais ricos. Serve os partidos que ocupam o poder, apenas isso. Abdicar do voto é abdicar da democracia. E apenas com mais democracia, maior participação, podemos combater este estado de coisas. Simples, não é?

23
Mai14

O triunfo da decadência

David Crisóstomo

Não aprendemos nada. Ninguém quis saber. Nunca como nos últimos cinco anos sentimos na pele como as grandes decisões que afectam o nosso dia-a-dia, a evolução da nossa sociedade, a nossa situação económica e financeira são tomadas em Bruxelas. Em Bruxelas, Luxemburgo, Frankfurt e Estrasburgo. Não quisemos saber. Andámos as últimas semanas como se estivéssemos em 1992. A Europa é gira e tal, há umas cenas que importam, mas eu quero é falar sobre o que fazer cá no burgo. Parlamento Europeu? Who cares. Não importa para nada. É para tachos, é abolir aquela merda. Eleger gente para quê? Para nos representar? Políticos, ainda por cima longe do meu olho? Ca nodja. É fechar aquilo e é já. Preferimos todos não eleger ninguém e deixar o nosso futuro na mão de um bando de sábios que nos últimos anos apenas demonstraram serem sabichões. Presidente da Comissão Europeia? Querolásaber. Até parece que me aquece ou arrefece. A troika sim, fora daqui, fez um bom trabalho, foi um horror, e o Sócrates, o Sócrates! A troika era o FMI, e outras duas cousas que agora não me recordo. Mas tenho lá tempo para perder com candidatos a presidentes da Comissão Europeia. Também era de abolir isso, que isto era um terra de gente honrada e de bons costumes antes da CEE. Estávamos perto daquele tempo onde não havia défices, tempos dourados onde a regra d'ouro era cumprida à força toda, isso sim, isto da CEE, UE, ou que é, só dá chatices. E agora ainda tenho que perder tempo a ouvir propostas para o continente? Mas e a minha rua? Ah, sim, surf nas escolas, fale-me mais disso. E o Sócrates, esse malandro, como é que ainda não está preso ou apedrejado? Conte-me mais doutor Nuno Melo, conte-me tudo. Fale-me da besta do Sócras, do vírus do PS, do despesismo, fale-me disso tudo, que eu de Europa não quero saber, não serve para nenhum. Bora sair daquilo assim à bruta e prontus, como defende o camarada João Ferreira, bora lá pessoal, siga, é rasgar os tratados, viva a independência do condado portucalense, viva viva, que venha o escudo, que venha, que eu não quero saber de consequências disso nem eles estão para explicar. Eu quero é saber de selfies, ah tão giro que ficou o doutor Seguro, que já apresentou o programa de Governo enquanto apresentava o Assis, que isto assim poupa-se tempo, só faltou apresentar o candidato ao Palácio de Belém e às municipais. É a despachar, que o povo não quer saber de Europa, quer é ver os gatunos punidos, força Gil, força senhor-da-Madeira, força ex-bastonário Marinho, que vai defender bué o interesse da população, apesar de muito provavelmente não ir ter grupo parlamentar em Estrasburgo e, como tal, ficar lá sem fazer nenhum. Mas isso agora não interessa nada, ele diz que vai lutar contra o lobby gay e contra quem andou a meter dinheiro nos bolsos e eu gosto disso, cheira-me bem, que se foda a Europa. 

 

Não aprendemos nada. Fora excepções, ninguém quis saber e ninguém quis comunicar. Eu sei onde voto no domingo e não é em gente que despreza o acto eleitoral que nesse dia acontecerá. Que vergonha, caramba.

 

12
Mai14

Paraíso Perdido

CRG

“Never can true reconcilement grow, where wounds of deadly hate have pierced so deep.”

- John Milton

 

Este era o verdadeiro desafio da União Europeia: permitir que a reconciliação florescesse num Continente coberto de feridas profundas de ódio mortal. A integração económica seria um mero instrumento, o objectivo último sempre foi a paz.

 

Infelizmente, como sucede repetidas vezes os meios transformaram-se no fim - a paz torna a guerra em algo inimaginável; e assim o desenvolvimento económico tomou a primazia. Tal alteração é reflectido na actual arquitectura institucional europeia, que acaba por reforçar aquela.

 

Com efeito, Thomas Paine, em "Common Sense", alertava que se for permitido numa estrutura governativa a existência de um poder mais forte do que os demais este acabará por governar; e apesar de outros poderem bloquear momentaneamente ou servirem de contrapoder, os seus esforços serão contraproducentes; no fim os interesses daquele acabarão sempre por triunfar.

 

O triunfo dos interesses da parte mais forte será entendido, mais cedo ou mais tarde, pelos restantes como uma opressão. A sua manutenção na união torna-se numa obrigatoriedade - a opção menos má. Estes deixarão de se percepcionar como participantes livres, apenas como participantes numa farsa. Por sua vez, a outra parte olhará com desprezo os mais fracos: um peso morto sem um pingo de gratidão.

 

Um "casamento forçado" que criará novos ressentimentos.

 

(Para assinalar o inicio oficial da campanha para as Europeias: uma versão actualizada de um texto publicado em 2013)

15
Abr14

Há jornalistas trapalhões a escreverem sobre as europeias, o mesmo de sempre

David Crisóstomo

Caramba Público, isto já começa a enjoar, não é a 1ª vez que leio artigos vossos sobre as eleições europeias todos atabalhoados. E o de hoje vem com erros ridiculamente óbvios, como uma infografia onde se lê que há "16 partidos", quando são na verdade "16 candidaturas", com 18 partidos, como vem indicado no próprio titulo da peça; outro imbróligo: a noticia refere que o próximo presidente da Comissão Europeia "terá de ser votado pelo PE com maioria absoluta (pelo menos 356 deputados, metade mais um do total dos eleitos)" - dado que o Parlamento Europeu vai passar a ter 751 eurodeputados a partir das próximas eleições, "metade mais um do total dos eleitos" dá, na minha terra, 376 deputados; outra tosquice: "Todos os partidos já com assento no PE recandidatam actuais eurodeputados, à excepção dos socialistas, que deixaram ‘cair’ Vital Moreira" - é, a Alda Sousa, o Diogo Feio, a Regina Bastos, a Maria Graça de Carvalho, a Maria Patrão Neves, o Nuno Teixeira e o Mário David foram eleitos pelo PS, lá está (e a Edite Estrela, o Luís Paulo Alves, o Correia de Campos e o Capoulas Santos são o quê? Vêm em que lista?).
Vá lá, a ver se nos esforçamos um pouco mais, senão aquele vídeo da Bárbara Reis a explicar que os artigos do Público online vão passar a ser pagos porque a vossa preocupação é continuarem "a fazer o jornalismo que importa, o jornalismo que faz a diferença, o jornalismo profundo e independente" vai começar a ser considerado como sarcástico.

 

 

27
Mar14

As escolhas de Seguro

Pedro Figueiredo

Não foi à toa que o 365 Forte escolheu a frase de Ortega y Gasset como mote para o blogue. É perante o dilema das circunstâncias que temos de nos decidir. No entanto, é o nosso carácter que decide.

 

As escolhas feitas por António José Seguro para a lista de candidatos às europeias são, certamente, defensáveis. As razões podem prender-se com variadíssimos argumentos, que podem fazer a diferença em quem terá de decidir, nas urnas. Ainda assim, há dois nomes que o secretário geral do Partido Socialista decidiu excluir que merecem um escrutínio maior do que aquele que foi tentado pelos jornalistas no dia em que foram anunciados os nomes no Largo do Rato.

 

Edite Estrela recebeu há cerca de duas semanas o prémio de melhor parlamentar europeia para o emprego e assuntos sociais, curiosamente duas áreas que estão na linha da frente do interesse europeu e nacional por razões sobejamente conhecidas. É eurodeputada desde 2004 e um dos rostos nacionais mais activos que o país tem em Bruxelas. Capoulas Santos também não terá possibilidade de concorrer a um terceiro mandato e despede-se do Parlamento Europeu como coordenador do Comité de Agricultura e Desenvolvimento Rural, áreas nas quais também distingido com o prémio de melhor europeutado em 2012, tendo sido igualmente relator na reforma da PAC, que lhe valeu nova nomeação este ano.

 

Tão importante como justificar as escolhas, é também explicar as ausências. Quando alguém desempenha com distinção as funções que lhes foram atribuídas, a lógica defende apenas dois argumentos válidos: ou foi a vontade do próprio a prevalecer ou haverá planos mais auspiciosos para os protagonistas num futuro próximo. A primeira razão não parece colher qualquer fundamento, pois se assim fosse, Seguro seria o primeiro a vir a público dizê-lo, resguardando-se de eventuais críticas (internas e externas) que pudesse vir a ter. Aliás, pelo comentário de Edite Estrela no Facebook, o mais certo é que tenha tido a notícia de que não integraria as listas pela Imprensa. A segunda razão é difícil de comprovar, já que o que foi conversado entre as partes, por ali ficou.

 

As últimas sondagens continuam a ser desanimadoras para o PS, apesar de ser o partido mais votado. A liderança de Seguro tem andado a escapar-se por entre os intervalos da chuva das sondagens, algumas bem pesadas para o principal partido da oposição e ainda por cima com o panorama do actual do Governo.

 

Seguro pode querer (e tem legitimidade para isso) renovar a equipa europeia, mas ao deixar Edite Estrela e Capoula Santos de fora, depois dos reconhecimentos públicos ao trabalho de ambos, arrisca-se a criar uma nova polémica, a qual, sinceramente, não precisava. E enquanto não explicar as razões dessas ausências (fugiu às perguntas mais directas dos jornalistas nessa matéria), abre a porta da especulação. Que vai contra o discurso de transparência que tanto tem apregoado.

«As circunstâncias são o dilema sempre novo, ante o qual temos de nos decidir. Mas quem decide é o nosso carácter.»
- Ortega y Gasset

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