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365 forte

Sem antídoto conhecido.

Sem antídoto conhecido.

05
Dez16

Necedade Desnecessária

David Crisóstomo

Isto, peço muita desculpa, é um completo disparate.

Não é um disparate opinativo, é mesmo pelo uso obtuso dos conceitos. Obviamente que a situação atual da construção europeia não é ideal, obviamente que o argumento de quem reclama mais poderes de volta para as capitais nacionais e menos coesão legal ao nível de direitos, deveres, liberdades e garantias tem mérito intelectual (eu não me revejo nele, de todo, mas reconheço a lógica e o raciocínio de quem o faz honestamente como válidos, sem dúvida). Obviamente que há quem possa ter uma opinião nacionalista (calma, não estou a chamar racista a ninguém, pode ser-se nacionalista sem ser da extrema-direita, é olhar pró PCP cá na terra ou pró KKE na Grécia) e essa opinião não é (para mim) imbecil, claro. Mas se é para defender isso que assumam, não inventem.

Agora, é muita ignorância ou má fé afirmar-se que os problemas da UE tem origem nas suas "soluções quasi-federalistas" ou o que raio - ou ignorância por não saber o que é a parte "federalista" da UE (dou uma ajuda: Parlamento Europeu ---> federalista; Eurogrupo ---> intergovernamentalista; Schengen ---> federalista; Tratado Orçamental ---> intergovernamentalista), ou má fé no sentido de provar que sim, que as profecias de fim da União de 2008, 2009, 2010, 2011, 2012, 2013, 2014, 2015, 2016 é que são a verdade pura e os que propõem outro caminho são uns iludidos. É que ainda por cima escrever uma coisa destas no dia a seguir à Áustria ter eleito um Presidente abertamente federalista, o único candidato capaz de derrotar um neo-fascista, em que defesa da integração europeia foi das matérias que mais pesou na sua vitória, é uma completa falta de noção.

Temos ignorância em matérias europeias por cá, em o que é federalismo vs intergovernamentalismo (e também não há nada errado em preferir uma construção europeia exclusivamente inter-governamental), nas fases, atores e instituições europeias - ainda em 2013 éramos dos que menos conheciam a União Europeia e dos que menos queriam saber mais. Ignorância, essa, fruto duma quase ausência dos temas da construção europeia no debate público até há um par de anos. Convém não espalhar mais desinformação, entretanto.

 

28
Mai16

Se faz favor

David Crisóstomo

 

Então é assim: Francisco Louçã está espantado e em choque porque na Áustria há tipos de extrema-direita. Sabe lá Deus como, coisa nunca vista, um tipo extremista e xenófobo nascido em solo austríaco? Coisa recente e novel, só pode, nos bons velhos tempos não havia disto.

Não havia, e a culpa, Louçã conclui, é da União Europeia, essa maker-of-nazis. A conclusão está feita, a argumentação está por fazer, mas deduz-se ser óbvia, certamente. Pois então, não pode ser, na Áustria da gente bué recomendável que o conselheiro de Estado recomenda (deduz-se que nos países com a extrema-direita no poder aquilo seja pocilgas culturais), "de Viena capital da Europa", nos tempos áureos antes da UE malévola, onde Viena era opressora e colonialista de checos, bósnios, croatas, eslovenos, eslovacos, etc etc, essa mesma, de boas famílias, quem diria, que não foi a provocadora da IªGuerra Mundial nem nada, lá terá gente esquisita. E apesar do pseudo-fascista nunca ter ganho em Viena, nem na primeira nem na segunda volta, ter estado bem longe disso, estaremos na capital do país "que dá hoje metade dos votos a uma figura de um partido nascido da saudade da invasão pelas tropas nazis", pois, isto é coisa estranha, partidos com maiorias em democracias fundados por gente que esteve em partidos de regimes totalitários? Não temos cá disso, nunca se viu, isso é coisa do diktat de Bruxelas também. Aliás, o FPÖ, o partido nacionalista citado, já tinha o seu líder como governador da Caríntia, um estados da Áustria, e, com os seus 42 deputados, era já terceira força política antes da entrada da Áustria na União Europeia em 1995. Mas enfim, deixemos lá isso, detalhes meus.  

Continuemos. "Se este é o resultado da fragilidade do regime democrático, da decadência das suas políticas sociais, do medo dos refugiados e da perturbação criada pela guerra fria de baixo nível nas fronteiras da Rússia", e de muitos outros factores, muito bem, de acordo, continue, pois "então é caso para nos questionarmos sobre a sobrevivência da própria política europeia, porque ela é um dos factores principais desta desagregação" e prontus. A UE, deve estar lá nos tratados, é a culpada do tipo anti-UE ter arrecadado muitos votos na Áustria interior e rural. E da Rússia. E dos refugiados. Isto lá estava mesmo bom e nos conformes antes da UE meter o bedelho, como é óbvio. Aliás, nos dois temas, Rússia e refugiados, é isso que se exige nas ruas: UE fora daqui, cada um por si, não queremos cá cooperação, xô. 

"Quanto ao discurso, nem vale a pena cuidar disso". É, é melhor não, ainda nos estragava a narrativa e isso era chato. Ainda víamos que o tipo que Francisco Louçã denuncia tinha um discurso completamente odioso ao projecto europeu, a Schengen, às liberdades, direitos e garantias europeias, à Carta dos Direitos Fundamentais da União Europeia, ao mercado único, ao plano de reinstalação de refugiados europeus, a qualquer reestruturação da divida da Grécia, etc etc. Que dizia perceber que o risco para Portugal Áustria se chama Comissão Europeia e Banco Central Europeu. Mas não vale a pena cuidar disto.

Francisco Louçã sublinha ainda outros casos de alerta: "entretanto, forças afins da extrema-direita dominam ou participam nos governos da Polónia, Hungria, Dinamarca, Finlândia e Holanda". Ora bem, antes de mais é bom ver Louçã ao lado da Comissão Europeia e das forças progressistas europeias na denuncia do governo polaco, apelidando-o de "extrema-direita", também estou de acordo (estamos, apesar de tudo, a falar de um partido que pertence à família europeia do Partido Conservador britânico). Também concordo com a classificação relativamente ao governo húngaro, do Partido Popular Europeu (Duarte Marques dirá que não, mas eu e Louçã suportamos-nos neste documento, entre outros). Na Finlândia, os Verdadeiros Finlandeses lá estão na coligação, verdade, também concordamos. Agora, não sei aonde terá desencantado as forças de extrema-direita no governo dos Países Baixos (o Dijsselbloem é um lodoso feioso, mas não exageremos). E na Dinamarca, aspas aspas, mas aqui ainda posso supor que a argumentação será que o nacionalista Partido Popular Dinamarquês faz parte da maioria parlamentar que apoia o governo - mas então, isto quererá dizer que o Bloco de Esquerda participa no governo de Portugal, é? 

O post contínua, realçando que há governos progressistas que fazem aparentes contra-sensos na legislação laboral (coisas nunca vistas também e que claramente devem ser da inteira culpa da UE que os obriga, coitados, umas vítimas certamente, é ver como é nos estados fora do espaço comum, exemplares nesta matéria [o facto de a extrema-direita suíça, por exemplo, ter a maior bancada na câmara parlamentar federal também deve ser culpa da UE ou assim]) e que os federalistas estão depressivos, quais derrotados da vida, devido ao conjunto de chefes de estado e governo que nos calhou na rifa. Pronto, e aqui fico inquieto. Porque sei que Francisco Louçã sabe muito bem o que é o federalismo e o que é o inter-governamentalismo, e que o primeiro reivindica precisamente, por oposição ao segundo, que o destino da União passe a ser mais integrado e dependente da vontade dos seus cidadãos eleitores e não dos líderes nacionais. Que o federalismo defende o escrutínio e a responsabilização dos órgãos políticos europeus, que estes respondam apenas perante eleitorado europeu e o parlamento que os representa. Que os órgãos políticos europeus não estejam dependentes das vontades e desejos de governantes de parte da União, mas sim que dependa exclusivamente dos anseios e opções da maioria da população europeia. Dizer que os federalistas estão decepcionados com Schauble, Hollande ou Cameron é como afirmar que os marxistas estão decepcionados com os baixos salários pagos pela McDonalds. Partilhamos do diagnóstico de que é imperfeito, nunca o negámos, mas não é este o modelo defendido.

Mas o grande ausente do post de Francisco Louçã, que se baseia no resultado das eleições presidenciais austríacas para defender a sua (legítima, sem dúvida) tese eurocéptica é, precisamente, o vencedor das eleições presidenciais austríacas. Alexander Van Der Bellen ganhou este escrutínio, vencendo nos estados do Tirol, Voralberg, Alta Áustria e Viena. Foi o candidato mais votado em 14 das 15 maiores cidades austríacas, tendo vencido também em todas as nove capitais estaduais. O novo presidente da República da Áustria é um ecologista (ex-líder do partido ecologista austríaco), ex-deputado, um economista keynesiano, especialista em políticas públicas, e antigo director da faculdade de ciências sociais e economia da Universidade de Viena. É também um filho de refugiados e que se identifica como um declarado federalista europeu. Isto também é culpa das políticas europeias? 

 

Entendamos-nos. Sim, há um problema, que não é novo, com o poder de influência da extrema-direita em certas partes da Europa (dentro da UE e fora dela). E que, os dados demonstram, (à semelhança dos Estados Unidos da América) é basicamente um combate entre uma Europa das cidades e uma Europa do interior rural, entre uma Europa cosmopolita e uma Europa nacionalista.

E neste combate há as forças progressistas que se concentram na oposição e na altertiva a um retorno civilizacional e não em partilhar trincheiras nacionalistas com quem nada mais partilham. Foram estas forças que na passada semana venceram as eleições na República da Áustria.

 

 

(Disclaimer: Francisco Louçã foi meu professor e um dos melhores que tive. Todavia, nesta temática, dele sempre discordei, como é aparente)

 

27
Jan16

O lento recuo da decência

Frederico Francisco

A aprovação pelo parlamento dinamarquês de uma lei que permite o confisco de quaisquer bens de elevado valor que estejam na posse de refugiados é apenas mais uma numa já longa e triste série de machadadas nos "valores europeus". As aspas são ainda mais justificadas quando a expressão é usada desde há várias décadas como uma espécie de auto-elogio que os líderes da Europa fazem a si próprios. Se apenas alguns deles se conseguissem olhar ao espelho neste momento...

De acordo com a nova lei, a polícia terá poder para revistar qualquer pessoa que entre no país em busca de asilo e confiscar quaisquer bens de valor superior a 10000 coroas dinamarquesas (cerca de 1300€), desde que não tenham valor sentimental. A decisão sobre o valor sentimental dos bens caberá à própria polícia. Mesmo sem traçar os paralelos históricos óbvios, a aprovação desta lei é uma afronta aos direitos humanos e aos tão proclamados "valores europeus" que, aparentemente, para alguns, deixaram de incluir a compaixão, a solidariedade e a decência.

Esta lei foi aprovada pelos partidos que apoiam o actual governo de centro-direita, incluindo o Dansk Folkeparti, partido nacionalista e anti-imigração, mas também pelos sociais-democratas. A medida agora tomada pelo estado dinamarquês não é original, tendo sido antecedida pelo confisco de bens a refugiados levado já a cabo pelas autoridades suiças.

Como europeu e como europeísta, cresce em mim um desconforto com esta Europa. Os tais "valores europeus" têm de ter um sentido concreto e de incluir o mais básico respeito pela dignidade de todas as pessoas, nacionais ou estrangeiras. Infelizmente, nos dias que correm, estes são demasiadas vezes usados como um chavão desprovido de significado ou, pior ainda, como um apelo à conformidade perante regras impostas de forma quasi-autoritária.

18
Jun15

Uma tragédia clássica em perspectiva

Pedro Figueiredo

 

O desfecho de uma possível saída da Grécia da zona euro tem tudo para se tornar uma tragédia clássica tal como Aristóteles a descreveu. E não necessariamente para os gregos, ainda que a situação financeira do país fique por resolver mesmo abandonando a moeda única. Isto porque a ideia de Europa, em consonância com os desígnios de quem a pensou na sua forma original, tinha tudo a ver com a solidariedade entre os povos.

Churchill dizia que em tempo de paz o que deve prevalecer é a boa vontade. No entanto, esta parece estar a ser sacrificada pelo simples facto de um país recusar impor aos seus cidadãos a agonia de um estrangulamento económico que apenas agrava (e compromete seriamente) o desejado (por todas as partes) pagamento das obrigações.

Ainda ninguém conseguiu avaliar a real dimensão da saída da Grécia do Euro e há opiniões para todos os quadrantes ideológicos. Porque, que se queira quer não, é de ideologia que se trata e não de simples contabilidade orçamental. O Syriza, radical ou moderado, teve o mérito de afrontar o discurso vigente das inevitabilidades que desde 2008 tem sido vendido à opinião pública. O resultado dessas inevitabilidades vem hoje muito bem descrito na primeira página do The Guardian. Brevemente podem fazer o mesmo com Portugal.

É possível que a saída da Grécia seja um caso isolado. Que não haja perigo de contágio ou, mesmo a haver, a boa vontade que parece não haver com os gregos agora, tenha que obrigatoriamente surgir mais tarde com as economias mais débeis da zona euro, com Portugal (de cofres cheios) obviamente na linha da frente das vítimas. O certo é que para a história ficará uma ferida das que deixam marcas num projecto comum (importante), no qual se deixou cair um parceiro por razões meramente contabilísticas. Como no elo mais fraco: “adeus”. Sem que se tenham ouvido vozes suficientes para a defesa de um Estado membro da União (monetária, neste caso).

Para os mais acérrimos defensores da lógica mercantilista é sempre bom lembrar que existem na equação activos intangíveis. Que discurso terá a Eurogrupo depois de permitir a saída da Grécia do Euro? Que solidariedade pode defender sem manchas de ridículo por ter desistido do sexto mais populoso país dos 19 da moeda única? Não será difícil adivinhar quem será o maior prejudicado desta tragédia clássica que se perspectiva. Entre Euro e Grécia, o futuro o dirá.

 

A propósito…

 

M: This private vendetta of yours could easily compromise Her Majesty's government. You have an assignment, and I expect you to carry it out objectively and professionally!

James Bond: Then you have my resignation, sir.

M: We're not a country club, 007!

28
Mai14

Da farsa

CRG

"Os líderes dos 28 recusaram na terça-feira à noite endossar o nome de Jean-Claude Juncker, o candidato do partido mais numeroso do Parlamento Europeu (PE), para o cargo de presidente da Comissão Europeia. Não excluíram o nome do luxemburguês, mas lançaram as bases para que a escolha do sucessor de Durão Barroso seja feita na base de um lote mais vasto de possibilidades."

Felizmente, os líderes europeus estão preocupados com o nível de abstenção e com o avanço dos partidos extremistas e populistas, pelo que nunca iriam tomar medidas que minasse a já débil democracia europeia e a confiança dos eleitores. 

 

Perante o inverosímil a realidade adopta um tom difuso "como um sonho acordado". Será apenas incompetência ou querem mesmo acabar com o projecto europeu? Como foi possível terem "permitido" que existisse campanha, debates entre candidatos, e no fim, após a contagem dos votos, afirmarem que era tudo uma farsa.

 

23
Mai14

O triunfo da decadência

David Crisóstomo

Não aprendemos nada. Ninguém quis saber. Nunca como nos últimos cinco anos sentimos na pele como as grandes decisões que afectam o nosso dia-a-dia, a evolução da nossa sociedade, a nossa situação económica e financeira são tomadas em Bruxelas. Em Bruxelas, Luxemburgo, Frankfurt e Estrasburgo. Não quisemos saber. Andámos as últimas semanas como se estivéssemos em 1992. A Europa é gira e tal, há umas cenas que importam, mas eu quero é falar sobre o que fazer cá no burgo. Parlamento Europeu? Who cares. Não importa para nada. É para tachos, é abolir aquela merda. Eleger gente para quê? Para nos representar? Políticos, ainda por cima longe do meu olho? Ca nodja. É fechar aquilo e é já. Preferimos todos não eleger ninguém e deixar o nosso futuro na mão de um bando de sábios que nos últimos anos apenas demonstraram serem sabichões. Presidente da Comissão Europeia? Querolásaber. Até parece que me aquece ou arrefece. A troika sim, fora daqui, fez um bom trabalho, foi um horror, e o Sócrates, o Sócrates! A troika era o FMI, e outras duas cousas que agora não me recordo. Mas tenho lá tempo para perder com candidatos a presidentes da Comissão Europeia. Também era de abolir isso, que isto era um terra de gente honrada e de bons costumes antes da CEE. Estávamos perto daquele tempo onde não havia défices, tempos dourados onde a regra d'ouro era cumprida à força toda, isso sim, isto da CEE, UE, ou que é, só dá chatices. E agora ainda tenho que perder tempo a ouvir propostas para o continente? Mas e a minha rua? Ah, sim, surf nas escolas, fale-me mais disso. E o Sócrates, esse malandro, como é que ainda não está preso ou apedrejado? Conte-me mais doutor Nuno Melo, conte-me tudo. Fale-me da besta do Sócras, do vírus do PS, do despesismo, fale-me disso tudo, que eu de Europa não quero saber, não serve para nenhum. Bora sair daquilo assim à bruta e prontus, como defende o camarada João Ferreira, bora lá pessoal, siga, é rasgar os tratados, viva a independência do condado portucalense, viva viva, que venha o escudo, que venha, que eu não quero saber de consequências disso nem eles estão para explicar. Eu quero é saber de selfies, ah tão giro que ficou o doutor Seguro, que já apresentou o programa de Governo enquanto apresentava o Assis, que isto assim poupa-se tempo, só faltou apresentar o candidato ao Palácio de Belém e às municipais. É a despachar, que o povo não quer saber de Europa, quer é ver os gatunos punidos, força Gil, força senhor-da-Madeira, força ex-bastonário Marinho, que vai defender bué o interesse da população, apesar de muito provavelmente não ir ter grupo parlamentar em Estrasburgo e, como tal, ficar lá sem fazer nenhum. Mas isso agora não interessa nada, ele diz que vai lutar contra o lobby gay e contra quem andou a meter dinheiro nos bolsos e eu gosto disso, cheira-me bem, que se foda a Europa. 

 

Não aprendemos nada. Fora excepções, ninguém quis saber e ninguém quis comunicar. Eu sei onde voto no domingo e não é em gente que despreza o acto eleitoral que nesse dia acontecerá. Que vergonha, caramba.

 

22
Mai14

Com todo o espírito democrático

Pedro Figueiredo

Comparar o maior partido da oposição a um vírus está, com certeza, dentro dos níveis democraticamente aceites pelos membros da coligação. A resposta do maior partido da oposição foi desvalorizar o assunto, não querendo entrar nas guerras de terminologias entre vírus e bactérias, não mencionando sequer que o candidato a renovar o seu mandato como deputado eleito para representar o país no Parlamento Europeu, venha retratar-se publicamente, lembrando que as declarações mancham o bom nome, não só de todos os seus militantes e dirigentes, como o de todos os que trabalharam e fundaram o partido.

 

Faltou, como tão bem lembrou CRG no post anterior, o "with all due respect" do Woody Allen, recurso que Ricardo Araújo Pereira também já usou, no célebre episódio que imortalizou o kunami fresquinho.

 

O nível de linguagem usado na política também conta na análise que se faz de cada candidato. Excepto nos casos dos convidados a cargos públicos. E não é a questão de se valorizar mais a forma do que o conteúdo. É apenas ter o bom-senso de se saber que à vontade não significa à vontadinha. Sobretudo quando se sabe que o país inteiro vai ver e ouvir.

07
Mai14

Um país em fuga

Pedro Figueiredo
Sempre coube ao Governo, seja de esquerda ou de direita, criar as condições essenciais para uma vida em sociedade capaz de gerar bem estar aos seus cidadãos. Poderá divergir-se na questão do Estado ter um papel maior ou menor na dinâmica da economia, mas a forma como é articulada a administração pública deveria ser (bem) mais expedita, para que não se criem bloqueios ao progresso. Portugal terá, porventura, neste caso particular, o maior calcanhar de Aquiles. As diferentes concepções de Estado que os dois maiores partidos têm tido ao longo destes anos - a anularem-se mutuamente na rotatividade legislativa - fazem, muitas vezes, voltar-se à estaca zero ou a registar retrocessos consideráveis​. Basta recordar o que aconteceu com o Simplex.




11
Fev14

Neutros uma ova!

Pedro Figueiredo

Sicherheit schaffen=criar segurança 

 

Sempre me fez confusão a suposta neutralidade da Suíça. Bom, na verdade, a neutralidade em geral, mas a da Suíça é que vem ao caso. A neutralidade ou a abstenção é uma espécie de assobiar para o ar em qualquer matéria em que se seja chamado a dar a opinião. Um indiferença que incomoda e que não raras vezes acaba por influenciar negativamente o desfecho de qualquer consulta, seja ela de que natureza for.

A neutralidade da Suíça deu muito jeito na Segunda Guerra Mundial (já vinha da Primeira) a todos os lados do conflito. Mais tarde, nem sentiram sequer a necessidade de fazer parte de um projecto europeu, social e económico, dadas as garantias de estabilidade que o país sempre gozou e continua a gozar. Mas a Suíça não é, propriamente, o modelo de sonho, pelo menos ao olhos de quem está de fora.

 

Recorde-se que o grande escândalo que deu notoriedade ao WikiLeaks, projectando-o no mundo da informação, esteve relacionado com as práticas "pouco ortodoxas" de um banco suíço, designadamente o Julius Baer. Mas um facto parece incontornável: a Suíça continua a ser um paraíso fiscal, um porto de abrigo, a quem quer fugir aos respectivos fiscos nacionais.

Esta decisão saída do referendo em estar "contra a imigração em massa" transpira a medo do mais mesquinho que existe. Vem aí os imigrantes para roubar trabalho e dinamitar os 3 por cento de desemprego. Ideia que os próprios suíços (pelo menos aqueles que foram entrevistados pela televisão) recusaram liminarmente. Foi, aliás, dito por alguns até que foi a imigração a ajudar a Suíça a ser o que é hoje.

A imigração deve ser, regra geral, sempre vista dessa forma. Não faltam exemplos na Europa que confirmam a ajuda dada pelas massas de imigrantes a países necessitados. A Alemanha é uma delas e a França também.

 

O exemplo dado pela Suíça com o resultado do referendo, já colocado em causa pela União Europeia, é da tal forma estapafúrdio, que o sintoma mais crítico de que a medida é altamente xenófoba veio da França. Marine Le Pen achou tão boa ideia que quer fazer o mesmo no país que deu ao mundo o lema da Liberdade, Igualdade e Fraternidade. Não é preciso nenhum referendo para se perceber que a ideia é, no mínimo, estúpida.

Estão a abrir-se feridas na Europa difíceis de prever o seu desfecho. A Ucrânia surge como outro foco de problemas, talvez longe da Península Ibérica, mas um perigo e ameaça reais para, por exemplo, os alemães que estão praticamente ali ao lado. A primitiva perseguição das autoridades russas à comunidade LGBT é outro sintoma que a União Europeia devia tomar mais em atenção. É inacreditável o que acontece nas ruas de várias cidades russas, carregadas de intolerância e que invariavelmente acabam até por passar uma má imagem dos povos.

Portanto, que não se fale em neutralidade suíça. Agora escolheram claramente um lado: o de virar as costas à Europa e da forma mais grotesca possível.

«As circunstâncias são o dilema sempre novo, ante o qual temos de nos decidir. Mas quem decide é o nosso carácter.»
- Ortega y Gasset

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