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365 forte

Sem antídoto conhecido.

Sem antídoto conhecido.

01
Dez17

E Portugal, que ganha com isso?

David Crisóstomo

É bom para o país? Que ganhamos com essa decisão? É do interesse nacional? No fundo, um célebre what's in it for us

 

 

Aqui entre nós, deixem-me desabafar, que isto hoje tem sido um cínico fartote de visão nacional-centrica em tudo quanto é sitio. Tudo a avaliar a ida do Centeno para o Eurogrupo pelo prisma "isso é bom para o país porquê?" e já está, que é a única pergunta que importa.

 

 

Epa, isto para quem vai pela esquerda devia ser simples, olhem, ganhamos não ter um liberal (Pierre Gramegna do Luxemburgo), uma conservadora (Dana Reizniece-Ozola da Letónia) ou um imbecil "socialista" (Peter Kazimir da Eslováquia) à frente dum barco cuja influência nas nossas vidas andamos fartos de reconhecer nos últimos sete anos - pois (isto também devia ser óbvio) os outros candidatos são estes e o Eurogrupo não desaparecerá caso Mário Centeno não esteja para ali virado. Mas depois ainda é o aviso estarrecedor de que esta eleição "vai-nos amarrar à ortodoxia liberal, à austeridade", pois imaginem, "e se houver um novo resgate aos gregos ou uma nova crise?" - enfim, que canseira, olhem, se Centeno nos amarrar é porque se calhar até concorda com isso e então, más noticias camaradas, temos um problema no Ministério das Finanças agora; e caso haja um novo resgate ou coisa parecida, mais vale não estar um idiota ou um sem noção inconsequente (ou um esperto com as prioridades erradas) à frente do Eurogrupo, como aconteceu até hoje, não? Até parece que não sentimos isso na pele. Vão perguntar aos gregos se não preferiam ter tido um Centeno em vez de um Dijsselbloem. Muitos estão, até os normalmente sensatos, hipnotizados pelo modo "Portugal não ganha nada com..." - desculpem-me, vejo os jogos da seleção e até sei o hino de cor, juro, mas que limitada mania esta de que estas eleições são só sobre nós & nada mais, como se não houvesse outros princípios, decisões, outros fatores em jogo par'além de Vilar Formoso.

 

Até sou capaz de perceber aqueles que acham que um ministro das finanças de um governo nacional devia focar-se somente nas finanças nacionais -  mas, caramba, dado que os estados-membros não estão hoje ainda dispostos a considerar a opção de que o cargo de Presidente do Eurogrupo deveria passar para as mãos de um Comissário Europeu responsável pelas finanças europeias, que é eleito e escrutinado pelo Parlamento Europeu, então deixemos de fingir que o tabuleiro do jogo não é este. Quer dizer, temos finalmente um ministro das finanças de jeito, reconhecido pelo seu mérito e por até estar do lado certo do debate ideológico, e o que dizemos a outros europeus é "este é da terra, não quero que ele esteja sequer atento aos problemas dos outros, não partilhamos, arranjem outro, este é nosso e só nosso"? 

 

E depois, claro, há as comparações com o Barroso - que bolas, além de serem insultuosas para o Centeno, parece que é preciso grafittar que Barroso foi uma nomeação que por cá foi, lá está, sempre somente vista pelo ângulo do "interesse nacional", onde só se pensou no alegado "prestígio da nação" e nunca noutros elementos, que por duas vezes foi nomeado por 2 governos de duas cores políticas diferentes, que dois parlamentos com maiorias distintas não contestaram, que reuniu uma espécie de consenso nacional que era bom ter um português aos comandos. Isto, até ele nos ter relembrado que, choque, ele podia ser português, mas não deixava de ser Durão Barroso. E bem que outros europeus desejaram que tivessemos tido isso em conta em devida altura. O problema do Barroso foi exatamente só termos pensado com as quinas e não com racionalidade política e ideológica.

 

 

Tenham lá paciência. Este hipsterismo "ai, Eurogrupo, tô néi aí" já enjoa. O mundo lá fora continua. E a pátria cansa.

 

 

18
Jun15

Uma tragédia clássica em perspectiva

Pedro Figueiredo

 

O desfecho de uma possível saída da Grécia da zona euro tem tudo para se tornar uma tragédia clássica tal como Aristóteles a descreveu. E não necessariamente para os gregos, ainda que a situação financeira do país fique por resolver mesmo abandonando a moeda única. Isto porque a ideia de Europa, em consonância com os desígnios de quem a pensou na sua forma original, tinha tudo a ver com a solidariedade entre os povos.

Churchill dizia que em tempo de paz o que deve prevalecer é a boa vontade. No entanto, esta parece estar a ser sacrificada pelo simples facto de um país recusar impor aos seus cidadãos a agonia de um estrangulamento económico que apenas agrava (e compromete seriamente) o desejado (por todas as partes) pagamento das obrigações.

Ainda ninguém conseguiu avaliar a real dimensão da saída da Grécia do Euro e há opiniões para todos os quadrantes ideológicos. Porque, que se queira quer não, é de ideologia que se trata e não de simples contabilidade orçamental. O Syriza, radical ou moderado, teve o mérito de afrontar o discurso vigente das inevitabilidades que desde 2008 tem sido vendido à opinião pública. O resultado dessas inevitabilidades vem hoje muito bem descrito na primeira página do The Guardian. Brevemente podem fazer o mesmo com Portugal.

É possível que a saída da Grécia seja um caso isolado. Que não haja perigo de contágio ou, mesmo a haver, a boa vontade que parece não haver com os gregos agora, tenha que obrigatoriamente surgir mais tarde com as economias mais débeis da zona euro, com Portugal (de cofres cheios) obviamente na linha da frente das vítimas. O certo é que para a história ficará uma ferida das que deixam marcas num projecto comum (importante), no qual se deixou cair um parceiro por razões meramente contabilísticas. Como no elo mais fraco: “adeus”. Sem que se tenham ouvido vozes suficientes para a defesa de um Estado membro da União (monetária, neste caso).

Para os mais acérrimos defensores da lógica mercantilista é sempre bom lembrar que existem na equação activos intangíveis. Que discurso terá a Eurogrupo depois de permitir a saída da Grécia do Euro? Que solidariedade pode defender sem manchas de ridículo por ter desistido do sexto mais populoso país dos 19 da moeda única? Não será difícil adivinhar quem será o maior prejudicado desta tragédia clássica que se perspectiva. Entre Euro e Grécia, o futuro o dirá.

 

A propósito…

 

M: This private vendetta of yours could easily compromise Her Majesty's government. You have an assignment, and I expect you to carry it out objectively and professionally!

James Bond: Then you have my resignation, sir.

M: We're not a country club, 007!

21
Fev15

A vitória (da) política grega

Frederico Francisco

Um dia após o pré-acordo atingido no Eurogrupo sobre a situação grega, já muitos dos habituais se apressaram a argumentar que o acordo que a Grécia conseguiu é uma cedência desta em toda linha e que ficou demonstrado que, independentemente dos governos, as regras europeias têm que ser cumpridas. Era, sem dúvida, interessante discutir a quase satisfação com que muitos no nosso espaço público fazem esta apologia da inutilidade das escolhas democráticas face às inevitabilidades ditadas por Bruxelas (ou Berlim), mas isso ficará para outra altura.

Neste momento interessa focar o que a Grécia já conseguiu de importante. A extinção da Troika, mesmo podendo ser apenas simbólica, representa a recuperação do papel de membro de pleno direito da Zona Euro. A partir de agora, as negociações fazem-se ao nível político de igual para igual. É verdade que as três instituições continuam a ter um papel, mas não haverá mais negociações de ministros com funcionários. Se for só por isto já valeu a pena.

Em simultâneo, o governo grego aumenta o seu nível de responsabilização pelo que se irá passar de seguida. Ao assumir publicamente a co-autoria das reformas que vão ser efectuadas, não terá mais a possibilidade de se desculpar com imposições da Troika (faz lembrar alguém?). Neste aspecto, é também uma vitória da política e uma vitória da democracia.

22
Jan13

"Não pediremos mais tempo nem mais dinheiro" (ai afinal não)

mariana pessoa
«As circunstâncias são o dilema sempre novo, ante o qual temos de nos decidir. Mas quem decide é o nosso carácter.»
- Ortega y Gasset

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