As escolhas de Seguro
Não foi à toa que o 365 Forte escolheu a frase de Ortega y Gasset como mote para o blogue. É perante o dilema das circunstâncias que temos de nos decidir. No entanto, é o nosso carácter que decide.
As escolhas feitas por António José Seguro para a lista de candidatos às europeias são, certamente, defensáveis. As razões podem prender-se com variadíssimos argumentos, que podem fazer a diferença em quem terá de decidir, nas urnas. Ainda assim, há dois nomes que o secretário geral do Partido Socialista decidiu excluir que merecem um escrutínio maior do que aquele que foi tentado pelos jornalistas no dia em que foram anunciados os nomes no Largo do Rato.
Edite Estrela recebeu há cerca de duas semanas o prémio de melhor parlamentar europeia para o emprego e assuntos sociais, curiosamente duas áreas que estão na linha da frente do interesse europeu e nacional por razões sobejamente conhecidas. É eurodeputada desde 2004 e um dos rostos nacionais mais activos que o país tem em Bruxelas. Capoulas Santos também não terá possibilidade de concorrer a um terceiro mandato e despede-se do Parlamento Europeu como coordenador do Comité de Agricultura e Desenvolvimento Rural, áreas nas quais também distingido com o prémio de melhor europeutado em 2012, tendo sido igualmente relator na reforma da PAC, que lhe valeu nova nomeação este ano.
Tão importante como justificar as escolhas, é também explicar as ausências. Quando alguém desempenha com distinção as funções que lhes foram atribuídas, a lógica defende apenas dois argumentos válidos: ou foi a vontade do próprio a prevalecer ou haverá planos mais auspiciosos para os protagonistas num futuro próximo. A primeira razão não parece colher qualquer fundamento, pois se assim fosse, Seguro seria o primeiro a vir a público dizê-lo, resguardando-se de eventuais críticas (internas e externas) que pudesse vir a ter. Aliás, pelo comentário de Edite Estrela no Facebook, o mais certo é que tenha tido a notícia de que não integraria as listas pela Imprensa. A segunda razão é difícil de comprovar, já que o que foi conversado entre as partes, por ali ficou.
As últimas sondagens continuam a ser desanimadoras para o PS, apesar de ser o partido mais votado. A liderança de Seguro tem andado a escapar-se por entre os intervalos da chuva das sondagens, algumas bem pesadas para o principal partido da oposição e ainda por cima com o panorama do actual do Governo.
Seguro pode querer (e tem legitimidade para isso) renovar a equipa europeia, mas ao deixar Edite Estrela e Capoula Santos de fora, depois dos reconhecimentos públicos ao trabalho de ambos, arrisca-se a criar uma nova polémica, a qual, sinceramente, não precisava. E enquanto não explicar as razões dessas ausências (fugiu às perguntas mais directas dos jornalistas nessa matéria), abre a porta da especulação. Que vai contra o discurso de transparência que tanto tem apregoado.