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365 forte

Sem antídoto conhecido.

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27
Mar14

As escolhas de Seguro

Pedro Figueiredo

Não foi à toa que o 365 Forte escolheu a frase de Ortega y Gasset como mote para o blogue. É perante o dilema das circunstâncias que temos de nos decidir. No entanto, é o nosso carácter que decide.

 

As escolhas feitas por António José Seguro para a lista de candidatos às europeias são, certamente, defensáveis. As razões podem prender-se com variadíssimos argumentos, que podem fazer a diferença em quem terá de decidir, nas urnas. Ainda assim, há dois nomes que o secretário geral do Partido Socialista decidiu excluir que merecem um escrutínio maior do que aquele que foi tentado pelos jornalistas no dia em que foram anunciados os nomes no Largo do Rato.

 

Edite Estrela recebeu há cerca de duas semanas o prémio de melhor parlamentar europeia para o emprego e assuntos sociais, curiosamente duas áreas que estão na linha da frente do interesse europeu e nacional por razões sobejamente conhecidas. É eurodeputada desde 2004 e um dos rostos nacionais mais activos que o país tem em Bruxelas. Capoulas Santos também não terá possibilidade de concorrer a um terceiro mandato e despede-se do Parlamento Europeu como coordenador do Comité de Agricultura e Desenvolvimento Rural, áreas nas quais também distingido com o prémio de melhor europeutado em 2012, tendo sido igualmente relator na reforma da PAC, que lhe valeu nova nomeação este ano.

 

Tão importante como justificar as escolhas, é também explicar as ausências. Quando alguém desempenha com distinção as funções que lhes foram atribuídas, a lógica defende apenas dois argumentos válidos: ou foi a vontade do próprio a prevalecer ou haverá planos mais auspiciosos para os protagonistas num futuro próximo. A primeira razão não parece colher qualquer fundamento, pois se assim fosse, Seguro seria o primeiro a vir a público dizê-lo, resguardando-se de eventuais críticas (internas e externas) que pudesse vir a ter. Aliás, pelo comentário de Edite Estrela no Facebook, o mais certo é que tenha tido a notícia de que não integraria as listas pela Imprensa. A segunda razão é difícil de comprovar, já que o que foi conversado entre as partes, por ali ficou.

 

As últimas sondagens continuam a ser desanimadoras para o PS, apesar de ser o partido mais votado. A liderança de Seguro tem andado a escapar-se por entre os intervalos da chuva das sondagens, algumas bem pesadas para o principal partido da oposição e ainda por cima com o panorama do actual do Governo.

 

Seguro pode querer (e tem legitimidade para isso) renovar a equipa europeia, mas ao deixar Edite Estrela e Capoula Santos de fora, depois dos reconhecimentos públicos ao trabalho de ambos, arrisca-se a criar uma nova polémica, a qual, sinceramente, não precisava. E enquanto não explicar as razões dessas ausências (fugiu às perguntas mais directas dos jornalistas nessa matéria), abre a porta da especulação. Que vai contra o discurso de transparência que tanto tem apregoado.

12
Dez13

Oh democratas da minha terra

David Crisóstomo

 

"Em democracia ganha-se e perde-se. E um verdadeiro democrata aceita e conforma-se com as votações dos plenários quando é derrotado, tal qual fica satisfeito quando é vencedor, e eu não aceito nem admito à deputada Edite Estrela que pelo facto de ter perdido uma votação de mais de metade, mais de metade dos parlamentares europeus, nos insulte de hipócritas ou mais que passe pela sua cabeça."

um paladino da democracia


"Ao contrário das acusações de radicalismo feitas por Edite Estrela, prevaleceram hoje no Parlamento Europeu o bom senso e a moderação. Lamento que o mau perder de alguma esquerda radical revele que, para estes, só há democracia quando se ganham as votações. O parlamento europeu decidiu que a questão do aborto é competência dos Estados-Membros e que a União Europeia não deve procurar substituir-se-lhes nesta matéria. Hoje ganhou a democracia e foi derrotada uma agenda extremista. O Parlamento decidiu bem."

um patrono do poder da maioria parlamentar


"O centrista, que deverá concorrer sozinho à liderança da Juventude Popular, no congresso electivo deste fim-de-semana, mostrou-se contra o "radicalismo" e a "falta de sentido democrático" de Edite Estrela.

um padroeiro dos sentidos democráticos



Dadas todas estas manifestações de peito inchado sobre o "valor da democracia", sobre sacralidade das votações em plenário e sobre a importância de respeitar a vontade da maioria, vou aqui aguardar serena e pacientemente, que estas três e as outras almas que exigiram o respeito sobre esta condição básica da democracia, venham agora a público rebelar-se contra uma adulteração de uma votação no plenário do Parlamento Europeu e que, considerando o resultado real dos votos, da democracia, exigiam que o relatório da eurodeputada Edite Estrela seja de facto sujeito a votação em plenário. Não sendo "democratas de circunstância", estou certo que irão indignar-se contra o desprezo pelos votos dos representantes do povo, contra a desconsideração da vontade popular, contra este atentado ao "sentido democrático". Afinal, "importante mesmo é o resultado da votação", não é? Vou esperar por essas declarações inflamadas. Aqui na minha cadeirinha, muito confortável. Aguardarei.


«As circunstâncias são o dilema sempre novo, ante o qual temos de nos decidir. Mas quem decide é o nosso carácter.»
- Ortega y Gasset

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