O liberalismo sintético
Passos viveu em dois anos a experiência governativa que Thatcher obteve em vinte.
Resta saber se, caso perca o partido, vai finalmente perceber que quem está aqui a mais é ele.
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Passos viveu em dois anos a experiência governativa que Thatcher obteve em vinte.
Resta saber se, caso perca o partido, vai finalmente perceber que quem está aqui a mais é ele.
O Presidente do CDS-PP Paulo Portas foi do "céu à Terra" nos últimos dias. De uma demissão dita irrevogável com motivos plenamente justificáveis - i.e. a escolha de Maria Luís Albuquerque para Ministra das Finanças -, passou à hesitação e a ser questionado internamente, tendo assim a liderança no limbo e estando em risco a viabilidade da próxima representação parlamentar do CDS-PP. O próximo Congresso do CDS-PP toma, assim, contornos particularmente importantes para todo o país. Em circunstâncias normais, Paulo Portas recandidatar-se-ia, mas agora nem isso deve ser certo.
Os militantes do CDS-PP confrontam-se, portanto, com quatro hipóteses:
a) Reconduzir o publicamente descredibilizado, mas líder há 14 anos, Paulo Portas (1998-2005 e desde 2007);
b) Encontrar uma estratégia política similar há que Paulo Portas tem seguido, isto é a adaptação da estratégia consoante o posicionamento do PSD para evitar a supressão por este;
c) Manter uma linha coerente com o passado mais distante do partido e, de alguma forma, do país: a linha de Bagão Félix, Ribeiro e Castro e António Lobo Xavier.
d) Romper com o passado e tudo o que isso implica, adaptar-se às mudanças económico-sociais e, sobretudo, cívicas do século XXI e, principalmente, ocupar um espaço político inexistente.
Parece-me que Portugal teria tudo a ganhar com esta última hipótese, ainda que não a perspetive no seio de um CDS-PP profundamente conservador, sobretudo nas suas bases. Primeiro, porque é uma inevitabilidade que ocorrerá numa ou duas gerações, se o CDS-PP sobreviver politicamente até lá. Depois, porque não é um espaço que o PSD tenha decidido tomar enquanto governo, apesar do discurso de Passos Coelho e da sua equipa, sobretudo nas eleições internas de 2008 e, assim, aumentaria a amplitude ideológica e de escolha dos portugueses. Por fim, porque permitiria introduzir maior confiança interpartidária - fruto da clarificação do partido - e possibilitaria uma maior estabilização parlamentar e governamental, visto que preveria um PS ou um PSD mais capazes de estabelecer acordos parlamentares ou coligações no Governo com um CDS-PP liberal.
Nestes tempos tão tumultuosos, importa colocar o debate político no seu devido lugar e o CDS-PP é um eixo fundamental da estabilidade política nacional. Esperemos para ver...
Juros da dívida a subir estrondosamente no mercado secundário: crescimento de 23% (1,5 p.p.) nas últimas horas e a subir para lá dos 8%. A bolsa afunda-se, naquela que é a terceira maior queda de sempre e a maior dos últimos 15 anos. A União Europeia e a União Monetária a serem alvo de chacota em órgãos de comunicação social dos EUA, por causa da crise política criada pelo executivo nacional. Um país em conflito diplomático com a América do Sul. Julho ainda só vai no terceiro dia, mas já percebemos o que vai ser escrito sobre este Governo nos livros de História: é o pior da democracia portuguesa.
Portugueses,
O que se passou nas últimas 48 horas é pouco menos que humilhante para a nossa democracia e um autêntico atentado aos interesses nacionais.
Desmantelou-se o governo, ridicularizou-se a figura do Presidente da República e terminou-se o dia de forma completamente incompreensível. Há instantes, o Primeiro-Ministro, num exercício de negação e de irrealismo inacreditável, informou-nos que amanhã vai a Berlim conforme previamente agendado. Nestes dois dias, o governo perdeu o ministro das finanças, reafirmou uma política fracassada promovendo a ministra uma secretária de estado ajudante do ministro demissionário e, finalmente, vê o líder de um dos partidos que conferem maioria absoluta ao governo, bater com a porta, invocando como pretexto a nova ministra.
Que nos comunica o Primeiro-Ministro? Que o líder demissionário é um traidor (segundo o Primeiro-Ministro, deu o dito pelo não dito quanto a aceitar a nova ministra) e que está a agir de cabeça quente. Que faz o Primeiro-Ministro? Vai-lhe dar um tempo para refletir. Isto não é uma caricatura é a genuína anedota que nos foi contada há instantes por quem não tem as mínimas condições para continuar a ser Primeiro-Ministro de Portugal.
Uma anedota trágica pois sabemos que uma crise política na nossa atual conjuntura deve ser clarificadora, o mais rapidamente possível. Se havia reflexões a fazer que se fizessem em devido tempo e sem exposição pública, alimentando um triste e oneroso espetáculo que, muito francamente, nos envergonha. A cada hora de indefinição penalizam-se as empresas, as famílias e o Estado português, minando qualquer capital de credibilidade e respeito que os nossos parceiros tenham para connosco.
Perante a infantilidade deste Primeiro-Ministro que ameaça eternizar uma crise insana, é fundamental que o Presidente da República atue com a máxima urgência, criando as condições para encontrarmos a melhor solução possível para esta crise. Devolva-se a palavra ao povo. Agindo com celeridade e consequência face aos factos, é possível termos eleições dentro de menos de dois meses. Portugal não pode dar-se ao luxo de esperar.
Obrigado.
Líder da oposição
Nos últimos dois dias, este Governo juntou à preocupante crise económico-financeira e social portuguesa, a crise política - ontem - e a crise de valores - hoje. Aliado ao desgaste do executivo, a substituição de Vítor Gaspar por Maria Luís Albuquerque, ex-Secretária de Estado do Tesouro, precipitou a demissão de Paulo Portas e tornou este executivo num dominó. Arriscando a "pasokização" do seu partido, o Primeiro-Ministro Pedro Passos Coelho - o «Bersluconi de S. Caetano» - recusou, inacreditavelmente, a demissão do Ministro de Estado e dos Negócios Estrangeiros e, também, líder do partido da coligação. Na verdade, terá dado o mote para o início da campanha eleitoral para as Eleições Legislativas 2013, usando 10 milhões de portugueses como armas de arremesso político e arranjou forma de prolongar o espetáculo circense por mais uns dias. Neste momento, Portugal não tem um governo de coligação e, desde 2005, não tem um Presidente da República. Só as eleições podem exprimir o sentimento atual dos portugueses e legitimar um outro rumo político.
...É difícil que a situação política venha a ser mais conflituosa do que o que foi até aqui.
Só por isso, já vai valendo a pena.
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