Considerações sobre uma greve atrasada
Sobre o facto da Companhia Nacional de Bailado ter marcado greve para julho, tenho que dizer o seguinte:
Tarde e a más horas. Desde que soube, há uns dias, que os bailarinos da Companhia Nacional de Bailado estava a pensar fazer isto, foi logo o que pensei: tarde e a más horas.
Apesar de me solidarizar com qualquer protesto que lute pela carreira e pelo estatuto dos artistas portugueses, não posso deixar de salientar o quão profundamente idiota e preguiçoso é o timing para fazer esta greve, demonstrando que os bailarinos da CNB acordaram apenas agora para aquilo que muitos deles consideram o "nojo" da política, de ter noção do que se passa no país e da luta pelos seus direitos que, aparentemente, vai renascer em pleno fim de legislatura.
O que digo hoje sempre disse e volto a dizer quando quiser, lamento. Os bailarinos - e a direção, já agora - da CNB são os que mais têm contribuído para a imagem de que os artistas são uns analfabetos políticos e que só se mexem quando o problema já se tornou demasiado grande para parar. Não me lembro de, até hoje, ter lido comunicados, artigos, notícias ou entrevistas de pessoas da Companhia - inclusivamente da diretora Luísa Taveira, cujo legado vai ser o video mapping e o marco do início do fim da CNB - a manifestar preocupação com o setor cultural, no qual se insere a dança (não vão alguns não perceber), e no que esta tem sofrido nos últimos anos com os sucessivos cortes e falta de financiamento. O que está em causa hoje nesta Companhia, relativamente a carreiras, salários e falta de apoios, há muito que está assim para as mais pequenas Companhias e freelancers por Portugal. Este problema não é de agora e o Secretário de Estado Barreto Xavier, que tão bem têm acolhido nos vossos espetáculos, vai conseguir (já conseguiu) tramar-vos, como tem feito a toda a gente do setor, mesmo antes do término deste ano eleitoral e desta legislatura.
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