Jogo do Empurra
"Everybody lies"
House, M. D.
Na vida há duas certezas: vamos todos morrer e todos mentem. Deste modo, seria ingénuo julgar que os políticos, quer estes sejam da esquerda quer da direita, não o fizessem - não há qualquer exclusivo de virtuosismo. Este reconhecimento é fundamental uma vez que obriga, ou pelo menos devia obrigar, sobretudo os media, a uma constante atitude crítica.
Ora, se a mentira é tolerada e aceite como fazendo parte da vida e do jogo político, existem circunstâncias em que a mesma causa indignação. Na maior parte dos casos tal ocorre não pela mentira em si, mas por que esta é tão evidente que o seu uso acaba simplesmente por ser uma forma de tratar os destinatários como parvos.
Serve este intróito a propósito das inacreditáveis declarações de Passos Coelho em que defende que as estruturas intermédias que enganaram a ministra sejam demitidas.
Sucede que Paula Teixeira da Cruz conscientemente ignorou os diversos avisos das insuficiências do Citius - o que levou à demissão da equipa que desenvolveu o sistema informático e do próprio Chefe de Gabinete da Ministra - escolheu rodear-se de "yes man", optou ouvir apenas a informação que lhe interessava.
Deste modo, a responsabilidade do falhanço do Citius é da Ministra da Justiça, que, é importante realçar, baseou a própria reforma do mapa judiciário (e respectivos fechos de tribunais) na existência de meios electrónicos.
Esta tentativa de inocentar a Ministra de responsabilidades não só é baseada numa falsidade notória como revela uma atitude mesquinha ao pedir exigência e rigor apenas para os outros, o que já vai sendo característica usual na actuação do Primeiro-Ministro.