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365 forte

Sem antídoto conhecido.

Sem antídoto conhecido.

18
Jan15

Não acha repugnante?

David Crisóstomo

Yup, it's Ana Gomes on twitter, again:

 

 

Desta vez o ponto é algo como "Estão a ver o que vocês fizeram? Há pessoas a morrerem no Níger devido a uma caricatura publicada em Paris, caricatura essa que vocês defendem à luz liberdade de expressão e a liberdade de imprensa! Tenham vergonha!". Pois bem, a esta altura do campeonato, eu não sei bem o que dizer. Eu não estava preparado para que eu e outros que pensam como eu fossem considerados apoiantes da alegada causa de morte de várias pessoas. Várias pessoas morreram por fanáticos intolerantes e odiosos as terem matado um jornal europeu ter publicado uma imagem, um desenho.

 

Ora bem, eu cá acho repugnante (sim, repugnante, o adjectivo é mesmo certeiro) que uma deputada europeia que é membro suplente na Subcomissão dos Direitos Humanos e membro efectivo da Comissão de Liberdades Civis, Justiça e Assuntos Internos, venha publicamente acusar um jornal europeu de ser o responsável por atentados, distúrbios, vandalismos e assassinatos em países exteriores à União. Acho repugnante que uma deputada da bancada dos socialistas e democratas venha a público insinuar que, por acharmos que não é aceitável uma limitação das nossas mais básicas liberdades civis no sentido de impedir alegados "insultos" de crenças, visões ou opiniões, devamos ser considerados os causadores principais de homicídios noutras partes do planeta. Acho (colossalmente) repugnante que uma representante eleita da população europeia numa câmara parlamentar (o que o Papa e o Provedor da Santa Casa não são, que eu não sou tido nem achado na sua eleição e eles não me representam em lugar algum) venha publicamente alegar que há inocentes a morrer em África por alguém ter publicado uma caricatura em Paris. Acho repugnante que no Parlamento Europeu haja uma eleita por Portugal que ache que a sociedade francesa ou qualquer outra sociedade europeia tenha que se auto-censurar para não desagradar a quem ameaça matar para não ver a sua visão do mundo contestada.

 

 

P.S. - Momento de cinismo: se fosse um eleito do PSD ou do CDS-PP a afirmar dia após dia esta mundividência, já muitos tinham-se revoltado e indignado; como é "apenas" a Ana Gomes, há uma tolerância sem fim aparente, aparentemente.

 

11
Jan15

Pastoral, a resposta

mariana pessoa

Aqui, o meu fellow cenas CRG defende que, face ao que afirmei aqui, "considerar que é potenciado largamente por falta de condições económicas é um salto lógico que não posso acompanhar".

Não precisas de acompanhar, até porque o que afirmei era que "o extremismo medra nas condições de austeridade", não defendi uma relação causa-efeito linear, nem o objectivo era o de minimizar a responsabilização individual destes actos. Dessa forma, não abdico do factor da tomada de decisão individual de quem adere a estes movimentos extremistas. 

A questão, tal como descreveu e bem o nosso Sérgio Lavos, reside no facto de que a ascensão de movimentos e partidos explicitamente xenófobos está par a par com o aumento exponencial do desemprego, criando espaço para o argumento de que há falta de emprego por causa dos imigrantes, paredes meias com o racismo e xenofobia. Ora, nesse sentido, estamos a apontar para razões materiais para a ascensão de discursos radicais, colocando em causa a prevalência das sociedades democráticas no projecto europeu. É só ver Le Pen, que demorou apenas o tempo de descer uns degraus para propôr a suspensão do espaço schengen, como se a estes terroristas, nascidos e criados em França, tivesse feito alguma diferença ter de mostrar o passaporte numa qualquer fronteira....

Assim sendo, custa assim tanto acreditar que as consequências sócio-económicas das políticas de austeridade que levaram a um aumento do desemprego estejam associadas a uma vida no ghetto, sem esperança e sem expectativas? E que este vazio de futuro, assim percepcionado por quem não tem nada a perder, seja caldo de cultura perfeito para a disseminação de ideias extremistas? Pelos vistos não - e a economia política tem-se dedicado a este assunto. Está aqui um exemplo: 

Blomberg, S., Hess, G., Weerapana, A. Economic conditions and terrorism. European Journal of Political EconomyVolume 20, Issue 2, June 2004, Pages 463–478

Abstract: We explore the links between the incidence of terrorism and the state of a country's economy. Groups that are unhappy with the current economic status quo, yet unable to bring about drastic institutional changes, may find it rational to engage in terrorist activities. The result is a pattern of reduced economic activity and increased terrorism. In contrast, an alternative environment can emerge where access to economic resources is more abundant and terrorism is reduced. Our empirical results are consistent with the theory. We find that for democratic, high income countries, economic contractions lead to increased likelihood of terrorist activities.

 

 

 

08
Jan15

Je ne suis pas Charlie

Teresa

Desde logo porque já escrevi e apaguei o título deste post umas quantas vezes porque tenho medo, leram bem, medo, que me levem a mal.

Mas gostava, gostava de ser Charlie, ou melhor, gostava de ser destemida, de abrir a boca sempre que acho que o devo fazer e deitar cá para fora tudo o que me apetece dizer sem receio das consequências. Mesmo que as consequências pudessem ser, e quase nunca o são, uma rajada de tiros.
Ontem muitos foram Charlie, foram-no todos aqueles que saíram para as ruas sem medo de uns malucos que por lá andavam à solta carregados de armas, mas nós, os que acenamos com um JeSuisCharlie cá de longe sem receios de maior, continuamos de joelhos porque temos medo de morrer de pé. Ou de ser despedidos. Ou de ser mal vistos pela vizinhança. Ou de desagradar ao chefe, à namorada, aos amigos, ao gerente do banco, aos filhos teenagers, ao editor do jornal, ao político da praça, aos donos disto tudo.
 
Este não foi um atentado contra a liberdade de expressão, ou contra a humanidade, ou contra a Democracia, este foi um atentado contra a coragem de alguns, contra os que ainda não têm medo. A liberdade de expressão não tomba pelas mãos de uns encapuçados que matam a frio com tiros na nuca e fogem a seguir, a liberdade de expressão não treme assim, os três assassinos, e é só isso que eles são, assassinos, têm o poder de matar mas depende só de nós que passem a ter também o poder de abalar todos os nossos valores. Estes homens têm nomes e rostos e são eles, e só eles, que devem responder pela barbárie de ontem. A liberdade de expressão não foi atingida a tiro mas ao levantarmo-nos em massa contra um inimigo desconhecido estamos sem balas mas com o nosso medo a pôr em causa um outro princípio fundamental, o da justiça. Não procuremos a mão que embala o berço mas a que dispara a arma, que estes homens, estes e só estes, os que dispararam as armas, sejam perseguidos, apanhados, julgados e punidos de acordo com as regras civilizacionais de que todos nós, sem medo, nos recusamos a abrir mão.
 
Ontem homens foram assassinados porque sem medo exerciam o seu direito de se expressarem e a melhor, e única, forma de lhes fazermos justiça é de acordo com as mesmas regras do estado de direito que lhes permitiam serem livres nas suas convicções apanharmos os assassinos e julgá-los mostrando-lhes que independentemente das suas crenças pessoais ou dos gritos por um divino qualquer, eles não passam de criminosos comuns sentados num tribunal ao lado de outros criminosos comuns porque violaram a lei.
Generalizarmos a discussão com atentados à liberdade é estarmos a fazer a guerra deles, uma guerra santa qualquer onde todos os bons são Charlie e onde todos os outros são Saïd Kouachi, Chérif Kouachi e Hamyd Mourad.
 
 
 
07
Jan15

Charlie Hebdo - lembrar Jens Stoltenberg

mariana pessoa

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"We have to be very clear to distinguish between extreme views, opinions that it's completely legal, legitimate to have. What is not legitimate is to try to implement those extreme views by using violence," disse o então PM da Noruega Jens Stoltenberg, 2 dias após o ataque de Breivik em Oslo e Utoya. E acrescentou: "Our answer is more democracy, more openness and more humanity. But never naivety" .

 

E, nesse sentido, as afirmações de Ana Gomes são perfeitamente enquadradas na realidade:

 

4.png

O  extremismo medra nas condições de austeridade. É que nada potencia mais o desejo de morrer por uma ideia radical do que não ter condições para viver.

 

«As circunstâncias são o dilema sempre novo, ante o qual temos de nos decidir. Mas quem decide é o nosso carácter.»
- Ortega y Gasset

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