Na escola primária havia, invariavelmente, um menino querido da senhora professora. Nunca saía da sala de aula sem apagar o quadro, apresentava-se sempre como voluntário para ir fazer os recados aos contínuos e, no limite, deixava de brincar com os restantes meninos no intervalo para ficar na sala com a professora a comer o lanche.
Foram as primeira vítimas do que agora se denomina de bullying. Mas eram, também, um exemplo aos olhos da professora. Podiam não ser alunos brilhantes, mas por serem bem comportados e cumpridores eram apresentados como exemplo. O que não significava que essa espécie de lambebotismo infantil fosse o melhor caminho para o sucesso. Na verdade, o elogio dessa prática dependia sempre da personalidade da professora.
A história de Portugal como bom aluno conhece hoje um novo capítulo. A senhora professora vem elogiar o cumpridor miúdo, que apesar de levar calduços dos companheiros, continua a apagar o quadro e a fazer os recados. Mesmo sob o coro de protestos da restante sala de aula.
Que a chanceler alemã diga que Portugal não tem necessidade de renegociar com a Troika, não me surpreende. Do ponto de vista do credor, quando a dívida está a ser paga a tempo e horas, os custos que tais cumprimentos possam estar a ter no próprio país não lhe interessam minimamente. Aguentam e isso é que importa.
O que me deixa admirado é que o queridinho da senhora professora não perceba o que está a acontecer. À turma e a ele próprio. Inebriado pelos elogios do "bom aluno", continua a achar que um dia todos os outros meninos irão perceber que é a sua atitude e comportamento que estão certos. Acredita que o tempo assim o vai provar. Esteja ou não a professora a ensinar bem.