No seu editorial de hoje (os negritos são meus):
A história do senhor Baptista da Silva serviu para algumas pessoas avançarem com um conjunto interessante de teorias de conspiração sobre os média em geral – cuja falta de adesão à realidade é tão grosseira como o currículo do senhor Baptista da Silva. A primeira dessas teorias surgiu pela primeira vez, curiosamente, dentro do próprio grupo Impresa. Henrique Monteiro, que foi director do “Expresso” e hoje desempenha o cargo de director editorial para as novas plataformas, afirmou no seu blogue alojado no site do “Expresso” que a Baptista da Silva tinha sido dado todo aquele relevo (nomeadamente, no próprio “Expresso”) devido a um alegado “enviesamento para a esquerda” da imprensa. Escreveu Henrique, pela manhãzinha da véspera de Natal: “Caso o burlão fosse a favor de Passos Coelho e de Gaspar não teria o mesmo eco. Isso deve-se, a meu ver, a duas causas distintas. A primeira, é porque a imprensa tem, no geral, um enviesamento para a esquerda”. O “Expresso” rejeitou a crítica do seu antigo director. Na nota publicada na edição de sábado a direcção escreve que “há um ponto que o “Expresso” se vê obrigado a refutar e que tem a ver com as leituras políticas que, inevitavelmente e de forma primária, surgiram. Em momento algum o “Expresso” deu mais importância a algum tipo de opinião sobre a situação económica do país em qualquer dos seus cadernos ou no “Expresso da Meia Noite”. Era natural que a direcção do “Expresso” se procurasse defender do ataque do seu antigo director (replicado por outros também), mas não precisava. Em 40 anos, a instituição nunca teve qualquer “desvio para a esquerda” – nomeadamente no tempo da direcção de Henrique Monteiro. Mas o “Expresso” sente a obrigação de se justificar: “O ‘Expresso’ sempre teve por tradição ter colunistas com opiniões diversas, incluindo na direcção do jornal”. Ao contrário do “enviesamento de esquerda” da imprensa, o que vivemos é um tempo em que até um semanário de meia-idade se tem de justificar de ter alguém que é objectivamente contra as políticas do governo dentro da sua direcção.
O que podemos - e devemos - é interrogarmo-nos sobre o que levou Henrique Monteiro a ter a expectativa de que o Expresso não desse eco a um agente (seja lá ele quem for) que tem um discurso contra as políticas seguidas por este Governo. Mas não surpreende ninguém, pois não?