Sobre a evolução salarial
João Vieira Pereira volta ao tema dos salários. Mas não precisava ser tão enganador. Usa intervalos temporais despropositados certamente para iludir a evolução recente. E o que a evolução recente nos diz é que tem havido uma dinâmica salarial crescente no mercado de trabalho.
Se muitos dos novos contratos têm salário baixos não é menos verdade que a recomposição salarial está longe de se esgotar nos novos contratos. Nos últimos 3 anos, a desagregação por escalão de rendimento mostra que há mais 60 mil pessoas a receber menos de 900€ e há mais 120 mil pessoas a receber mais de 1200€.
Aliás, se o artigo de JVP mostra algo é a sua profunda insensibilidade para os números. Fala em 600 mil empregos criados, ainda que não se perceba onde foi buscar este número. O volume do desemprego criado pela direita tinha um perfil baixo de qualificações muito marcado.
Ora, não se percebe que medidas idealiza JVP para o volume de desempregados criado em 2011-13. A fórmula da direita para que eles não originassem novos contratos com “baixos salários” era condená-los a um desemprego eterno.
Há dois grandes elementos a condicionar a evolução salarial. A estrutura do nosso tecido produtivo muito dificilmente dissociável do nosso padrão de qualificações. E o prémio salarial que patrões decidem dar a trabalhadores, aqui não independente da capacidade de negociação e da taxa de desemprego.
Ora, existem ainda grande margem de progressão dos salários quando o peso dos salários no PIB é da ordem de 44% muito abaixos dos 50% de muitos países da Europa. Mas sobre este indicador, JVP parece ter pouco ou nada para dizer.
Mas percebemos que seria muito pedir a JVP que se pronunciasse sobre medidas que aumentem a capacidade reinvidicativa dos trabalhadores visando uma mais justa remuneração do trabalho, visando uma mais justa distribuição da riqueza.