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365 forte

Sem antídoto conhecido.

Sem antídoto conhecido.

11
Fev14

Será o LIVRE que irá cumprir a esperança do Bloco de Esquerda?

Diogo Moreira

O sistema partidário português, quando comparado com o de outros países, denota um bloqueio estrutural: a incapacidade do centro-esquerda conseguir fazer acordos de governo à sua esquerda. Muito se tem escrito e dito sobre as razões desse bloqueio, desde o confronto entre o PS e a extrema-esquerda no PREC, passando pelo facto do PCP permanecer um bastião do marxismo-leninismo, incapaz de considerar alianças que possam pôr em causa a pureza dos seus objectivos ideológicos. Isso teve como resultado previsível um PS que, em monentos cruciais, tem sido obrigado a procurar entendimentos à sua direita, para desgosto crescente da sua ala esquerda. Aquando do surgimento do Bloco de Esquerda criou-se a esperança que finalmente poderia surgir um partido que possibilitasse ao PS fazer entendimentos de governo à sua esquerda.

 

Embora o Bloco tenha tido um papel fundamental para a vitória da agenda de valores sociais progressistas dentro do próprio PS, algo que é ignorado por muitos, esvaziada essa agenda, a liderança de Francisco Louçã depressa demonstrou a mesma ausência de pragmatismo que o PCP. E o processo de fragmentação em curso, que empurra o Bloco para uma luta mortal pela sua própria relevância e sobrevivência, impede que a actual liderança possa aceitar qualquer entendimento real com o PS.

 

E assim abre-se espaço ao LIVRE.

 

Mas para que o LIVRE possa assumir esse lugar de relevo no sistema partidário nacional, precisa de demonstrar a sua força, e que existe de facto uma base social de apoio à sua agenda. E isso só conseguirá demonstrar indo sozinho a eleições.

Começam-se a ouvir rumores que a actual liderança do PS planeia ir coligada com o LIVRE às eleições europeias, sem dúvida um estratagema habilidoso para ofuscar o facto que Seguro é incapaz de estabelecer pontes com a ala esquerda do seu próprio partido, sendo obrigado a utilizar Francisco "Acordo com a Direita" Assis como cabeça de lista, porventura conjuntamente com uma "limpeza" disfarçada   a limitação de mandatos dos elementos mais esquerdistas do PS no Parlamento Europeu.

 

Embora possa parecer uma boa ideia, de forma a injectar sangue novo, e proeminente, de esquerda — num PS que assustadoramente se parece cada vez mais com o PSD de Passos — este poderá ser o beijo da morte do LIVRE. Afinal, a CDU é também uma coligação, entre o PCP e o PEV, embora ninguém duvide de quanto (não) vale o último sem o primeiro.

 

No actual estado do país, urge que a esquerda se afirme como uma alternativa à direita. E essa alternativa só é possível com o PS. Mas não com um PS virado à direita, baseado na "austeridade de rosto humano". É fundamental puxar o PS para a sua esquerda. Esperemos que um excelente resultado do LIVRE nas europeias, seja o primeiro passo nessa direcção tão necessária.

5 comentários

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    Antónimo 12.02.2014

    Eu cá tenho interesse na explicação...

    Até por ter interesse na dita união. Possivelmente sem PS (Costa, Assis, Vital Moreira, Correia de Campos não riscam um fósforo no que é necessário e seguro depois dos tribunais para ricos também não) mas apenas com sectores do PS.
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    A.R.A 13.02.2014

    ANTONIMO

    Meu caro, o raciocinio é simples e conciso no modo a explanar o ponto de vista daqueles que buscam a urgencia de um caminho para a convergencia das Esquerdas mas para me poder explicar melhor faço uso dos seguintes factores que teimam em ser exogenos aos partidos de Esquerda que os trona relutantes em convergir:

    Factor Estatistico
    - Como podemos ver mais em baixo, a ida APU teve sempre uma votação consistente entre 79/83 e mesmo em 85, já com a Aliança em declinio, a percentagem ficou-se pelos 15,49% o que, no presente, arriscaria uma fasquia a rondar perto dos 20% caso a mensagem fosse credivel o suficiente para aliciar, ironia das ironias, o sector de Esquerda de um Partido que se autodenomina de Socialista.
    1979: 18,80% (47 deputados em 250)
    1980: 16,75% (41 deputados em 250)
    1983: 18,07% (44 deputados em 250)
    1985: 15,49% (38 deputados em 250)

    Factor Historico/Ideologico- Começar uma convergencia a discutir o que separa a Esquerda é um erro recorrente sem qualquer sentido pratico. Invertendo a formula seria sempre uma boa ideia. Claro que haveria sempre a desconfiança de quem manda em quem, de quem se pendura em quem ... bom, é só inverter a formula com a flexibilidade qb em negociar um programa eleitoral sem prejuizo para as partes. Não creio que fosse dificil pois eu (ainda) acho que são mais as coisas que os unem do que aquilo que os separa.

    Factor Socio-Economico- Um discurso descomplexado sem dar espaço as sevicias mediaticas da contra-informação, em defesa de um Estado Social sem prejuizo da forma identitaria dos partidos da Aliança onde se destaca a nacionalização dos sectores de vital importancia para a soberania nacional mas sem descurar uma retorica com relevo para o sector privado e o seu papel na retoma economica, nomeadamente, fortalecimento e modernização das PME's através de incentivos fiscais e ou outros, assim como, reorganizar os sectores primarios a começar pelo aumento da nossa frota pesqueira tal como o aprofundar a reforma agraria que agora dá pelo nome de bolsa de terras.

    Unidade no discurso demonstrando uma Aliança descomplexada onde TODOS os partidos da Esquerda teriam uma palavra a dizer de sua justiça num plenario constituinte, peneirando o "trigo do joio" ou seja de quem tem propostas crediveis e validas a acrescentar ao programa com que a maioria dos presentes se possa identificar, antes de o chamar de seu. Um comite multipartidario a uma só voz. Mas de quem seria essa voz, pergunta o Antonimo? Pois ... eles já são crescidinhos o suficiente para não repetirem os erros do passado, penso eu de que!

    E o mundo seria perfeito? Não. Seria mais equitativo nas desigualdades pois um PS sairia sempre vencedor das eleições (não nos iludamos) a custa da sua apreciavel metamorfose politica rapidamente se adaptaria e teria que se alavancar nos numeros percentuais de uma reedição da APU para ser governo, o que poderia, hipoteticamente falando, muito bem criar uma profunda cisão ideologica no seio do partido mas ... o que não nos mata torna-nos mais fortes não é ?

    Cumprimentos
    A.R.A
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    Antónimo 16.02.2014

    Ora, A.R.A.

    De acordo, em grande medida.

    Mas algumas dúvidas minhas, sem propósito de confirmar ou contestar.

    Para já a estatística: Consistentemente somos confrontados com a abstenção.
    Nas urnas, sabe-se que os minímos históricos do PSD andam em redor dos 25-26% (com Fernando Nogueira) e os do PS nos 20% (com Almeida Santos).

    Julgo que nenhum dos dois partidos descerá abaixo disso. Talvez se pudesse ter tentado com a queda de Portas, mas Cavaco manobrou para queimar mais uma vez o PS.

    Ora, com os dois partidos reduzidos a essa expressão, teriamos uns 50 por cento de espaço a ocupar pela esquerda. Mas o trânsito não se faz assim. Há vasos que comunicam e vasos que não comunicam.

    Ressalvadas as excepções, em regra, um votante BE pode votar útil no PS ou no PCP. Um votante do PCP pode votar PS ou no BE. Um votante PS pode votar PSD ou BE.

    Não vejo especial vantagem em tirar muitos votos ao espaço mais ou menos de 55 por cento que a esquerda (PS incluído, para efeitos deste texto) pode ter.

    Em fase de transição - Por muito que me custe, não vejo que se possa excluir o PSD e PS como únicas e reais hipóteses de chefiar governos. Nos próximos anos será sempre um o ou outro e julgo afastada, ver acima, a oportunidade divina que houve para a pasokização do PSD -, só vejo vantagens em que a Esquerda PCP e BE cresça, mas o ideal seria que crescesse sem roubar demasiado ao PS, pois em situação muito minoritárias estes tenderão sempre a ir entender-se com o PSD e com o CDS-PP.

    Enquanto, PCP e BE não crescerem de modo a poderem constituir alternativas ao dito arco da governação, o ideal seria que o conjunto PCP-BE roubasse na abstenção, onde não tem convencido de modo consistente.

    Mas será que a abastenção tem realmente os valores consistentes que tem mostrado? Será que PCP e BE têm condições para ir roubar à abstenção? E a ser real, a abstenção não terá a mesma distribuição de votos potenciais que têm os partidos, com a respectiva tendência para uns votarem à esquerda e outros à direita?
  • Sem imagem de perfil

    A.R.A 17.02.2014

    ANTONIMO

    A sua ultima questão é realmente a mais pertinente visto que, a meu ver, a abstenção é composta no subjectivo mas que um olhar mais cuidado conseguirá destrinçar o enigma pois falamos da maior fatia do eleitorado e esse, na generalidade, caracteriza-se por um rácio populacional volúvel e sem ideia politica (esquerda ou direita é indiferente) apenas cedendo o seu voto ao politico (figura) e não ao programa partidário em votação, ou seja, não sabe o que quer apenas sabe o que não quer e o que não quer são governantes que vêm dizer que somos todos iguais, aquilo que ganhei com esforço é para repartir com o colectivo via Estado "paizinho" ... enfim, a tal contra-informação de que falava mais acima que se enraizou numa espécie de sectarismo empírico tão conveniente ao chamado Bloco Central que nos vêm desgovernando á 38 anos. Nada é ao acaso e a abstenção foi um monstro que custou a adormecer mas que finda a tarefa convêm mante-lo dormente e ignorante não vá aparecer por aí outro "companheiro Vasco" com umas ideias "esquisitas" e perigosas que acordem o rebanho que demorou 2 anos a adormecer depois de 48 anos de uma ditadura com uma doutrina social que ambos conhecemos.

    A abstenção também tem sido para partidos com eleitorado fiel, como é o caso do PCP, um pouco como aquela velha máxima de que quanto mais se mexe na merda pior será o cheiro portanto é melhor não ambicionar a incerteza correndo o risco de perder o concreto "confortável" e assim resta apenas o BE que surgiu como " e agora algo de diferente" contabilizando, é verdade, alguma fatia abstencionista mas o grosso do bolo deveu-se ao sector de esquerda desiludido do PS ainda dogmático e sectarista em relação ao PCP que se veio juntar ao esquerdistas que até então se espraiavam subdivididos pelo espectro politico nacional.

    Assim, uma hipotética reedição da APU teria forçosamente que contar com o PCP e o BE pois o caminho faz-se caminhando, e iniciada a marcha há que engrossar a coluna e não morrer no trilho. Só uma Aliança entre estes 2 partidos poderá, por um lado, acabar com a demonização anticomunista da esquerda socialista e outros, esvaziar do seu propósito os novos partidos e ou movimentos dissidentes do BE e de forçar um retorno as origens ideológicas de um PS que se esqueceu da sua matriz verdadeiramente socialista. Isto, hipoteticamente falando, seria o resultado pratico de um ressurgimento de uma APU e como a abstenção é como um rebanho sem norte (salvo aqueles abstencionistas por convicção ...) a mudança seria gradual mas certa, sem ser preciso recorrer a "verões quentes" com "novembros" ásperos pois, de inicio, a reacção seria de desprezo dando a Aliança seu devido tempo para o maturar e cimentar da ideia junto do eleitorado, mas com o tempo e os resultados em crescendo seria notória a incapacidade desestabilizadora do movimento reacionário em utilizar as armas de que dispõe hoje em dia: Os Mercados e a UE.

    Se assim não for, o máximo que o PCP poderá almejar serão (na melhor das hipóteses uns 13% ou 14%, consoante o tempo de governação neoliberal) e o BE corre o risco de ser a reedição de um MRPP até de voltar a ser o ido PSR. Portanto não acho expectável que ambos consigam conseguir alguma coisa da abstenção sem primeiro concretizarem os passos que acima descrevo com, obviamente, um PS como governo mas em coligação com os supracitados partidos de Esquerda.

    Cumprimentos
    A.R.A
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