Será o LIVRE que irá cumprir a esperança do Bloco de Esquerda?
O sistema partidário português, quando comparado com o de outros países, denota um bloqueio estrutural: a incapacidade do centro-esquerda conseguir fazer acordos de governo à sua esquerda. Muito se tem escrito e dito sobre as razões desse bloqueio, desde o confronto entre o PS e a extrema-esquerda no PREC, passando pelo facto do PCP permanecer um bastião do marxismo-leninismo, incapaz de considerar alianças que possam pôr em causa a pureza dos seus objectivos ideológicos. Isso teve como resultado previsível um PS que, em monentos cruciais, tem sido obrigado a procurar entendimentos à sua direita, para desgosto crescente da sua ala esquerda. Aquando do surgimento do Bloco de Esquerda criou-se a esperança que finalmente poderia surgir um partido que possibilitasse ao PS fazer entendimentos de governo à sua esquerda.
Embora o Bloco tenha tido um papel fundamental para a vitória da agenda de valores sociais progressistas dentro do próprio PS, algo que é ignorado por muitos, esvaziada essa agenda, a liderança de Francisco Louçã depressa demonstrou a mesma ausência de pragmatismo que o PCP. E o processo de fragmentação em curso, que empurra o Bloco para uma luta mortal pela sua própria relevância e sobrevivência, impede que a actual liderança possa aceitar qualquer entendimento real com o PS.
E assim abre-se espaço ao LIVRE.
Mas para que o LIVRE possa assumir esse lugar de relevo no sistema partidário nacional, precisa de demonstrar a sua força, e que existe de facto uma base social de apoio à sua agenda. E isso só conseguirá demonstrar indo sozinho a eleições.
Começam-se a ouvir rumores que a actual liderança do PS planeia ir coligada com o LIVRE às eleições europeias, sem dúvida um estratagema habilidoso para ofuscar o facto que Seguro é incapaz de estabelecer pontes com a ala esquerda do seu próprio partido, sendo obrigado a utilizar Francisco "Acordo com a Direita" Assis como cabeça de lista, porventura conjuntamente com uma "limpeza" disfarçada a limitação de mandatos dos elementos mais esquerdistas do PS no Parlamento Europeu.
Embora possa parecer uma boa ideia, de forma a injectar sangue novo, e proeminente, de esquerda — num PS que assustadoramente se parece cada vez mais com o PSD de Passos — este poderá ser o beijo da morte do LIVRE. Afinal, a CDU é também uma coligação, entre o PCP e o PEV, embora ninguém duvide de quanto (não) vale o último sem o primeiro.
No actual estado do país, urge que a esquerda se afirme como uma alternativa à direita. E essa alternativa só é possível com o PS. Mas não com um PS virado à direita, baseado na "austeridade de rosto humano". É fundamental puxar o PS para a sua esquerda. Esperemos que um excelente resultado do LIVRE nas europeias, seja o primeiro passo nessa direcção tão necessária.