Sai um Véu de ignorância para a mesa 3, sff
Segundo John Rawls (numa versão muito simplificada) indivíduos, concebidos como racionais e razoáveis, usando o "véu de ignorância" - isto é, desconhecendo o seu interesse específico, a sua origem social, a pertença de classe ou de partido - chegariam a um entendimento comum do que é justo.
Deste modo, sugiro que face à problemática constituição de novo governo se invertam os papéis: o PS ganhou com maioria relativa, mas o PSD e CDS, que foram a votos separados, alcançam juntos a maioria parlamentar. Neste cenário decerto que se iam ouvir muitas vozes de personalidades com ar de estadista a reclamar por um governo responsável e estável, que a escolha dos portugueses havia sido clara e que consistia num governo de direita. Do outro lado, socialistas diriam, e igualmente com razão, que tinham acabado de ganhar as eleições e tinham legitimidade para governar, mesmo em minoria.
Após tantos anos de menosprezo da Assembleia da República é natural que seja difícil acreditar que o Governo emana desta e não dos votos directos dos portugueses - nas legislativas, convém relembrar, o voto é para a constituição da AR e não para o governo.
Deste modo, caso Passos Coelho conclua que não consegue reunir apoio suficiente no Parlamento, que ao que tudo indica terá que incluir o PS, é natural e justo que o PS possa formar governo com apoio do PCP e do BE. A grande questão é perceber até que ponto será possível alcançar aqui acordo, designadamente se o programa Centeno é mais próximo da PAF ou do BE e do PCP.