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365 forte

Sem antídoto conhecido.

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21
Fev15

Royal Rumble presidencial

João Martins

Por estes dias em que despontam potenciais candidaturas à presidência da República como cogumelos, semana sim semana sim, a tática que todos utilizam do Se me quiserem, eu avanço fez-me lembrar o Royal Rumble.

RoyalRumble é uma das variáveis da luta livre em que são escolhidos cerca de vinte atletas e que cada um deles entra no ringue de 60 a 60 segundos, havendo alturas em que o ringue estará bem cheio. Ora, o objetivo é enviar os adversários para fora do ringue, desclassificando-os, até ficarem dois, ganhando o que se sobrepuser ao outro. 

Teoricamente, os atletas que mais tarde chegarem ao ringue terão mais hipóteses de vencer porque já só se baterão com os que estão lá há mais tempo e cuja forma física já não será a melhor comparativamente com quem acaba de entrar, mais fresco. Apesar disso, alguns acharão que quanto mais cedo entrarem na luta mais depressa mostram as suas valências de luta e resistência, na esperança que o público lhes reconheça o esforço e lhes dê mais ímpeto para continuar.

Desde já as minhas desculpas pela analogia não ser a mais refinada mas, do que se tem visto, nenhum potencial candidato sabe qual é a melhor altura para avançar para o ringue, admitindo de uma vez por todas - coisa que parece tabu - que quer ser candidato.

A disponibilidade de avançar de cada potencial candidato parece estar dependente do avanço ou recuo de outro potencial candidato. E o potencial candidato que é comentador no dia X vê com bons olhos o avanço do potencial candidato que por acaso também é comentador no dia Y, e este último até acha que o outro vai dizer que avança nas próximas semanas. Entretanto outro potencial candidato dá uma entrevista ao jornal A para que não se esqueçam que ele está preparado para avançar, mas só se quiserem muito que ele o faça.

Desses potenciais todos, o que tem sido mais interessante de observar é Marcelo Rebelo de Sousa. O político que já leva 15 anos de campanha televisiva praticamente ininterrupta tem dificuldade em assumir que se quer candidatar ao cargo ao qual se faz há tanto tempo. Marcelo sabe que é popularíssimo entre as pessoas e que todos os domingos tem ali um público fiel que se poderia transpor para as urnas com alguma facilidade, mas não quer avançar já. Se avança já, o Z avança logo, e o Y na semana a seguir vai pelo mesmo caminho e depois a luta começa mais cedo do que é habitual e ele cansa-se sem necessidade. Principalmente se a sombra que não deixa de o atormentar nos últimos tempos resolve aparecer.

E se Guterres não avança agora e avança mais tarde? Pois é. É que Marcelo, apesar de se saber muito popular, também sabe que muito provavelmente perderá contra Guterres, e as sondagens aí estão para o comprovar. 

Guterres terá percebido que até 2016 esta luta pré-eleitoral se tornou no tal Royal Rumble, e talvez por isso não avance já, esperando que os múltiplos candidatos da direita se digladiem primeiro entre si e provoquem mais uma divisão nos partidos que atualmente suportam o governo e se firam mais entre si. Até lá, como fez até agora, não confirma nem nega que está a ponderar candidatar-se.

Sejamos francos: goste-se ou não de Guterres, seja por que razão for, muito provavelmente será o único candidato do centro-esquerda - e o único apoiado pelo PS - que conseguirá ganhar as eleições ao candidato da direita que, também muito provavelmente, será Marcelo. Eu percebo que dê jeito a algumas pessoas - de direita e de esquerda - dizer que o PS está com um problema com as presidenciais, e até concedo que por agora o partido não tem grandes perspetivas sobre quem apoiar, mas tudo parece indicar que isto possa ser estratégia - lá está - para chegar mais tarde a uma luta que se adivinha bem pejada.

Por alguma razão vemos sugestões como a de Pedro Adão e Silva para a lista de potenciais como foi o nome de Manuela Ferreira Leite. É verdade que a comentadora (são quase todos, é engraçado) está bem cotada como opositora ao atual governo, mas parece que estas sugestões servem acima de tudo para dividir ainda mais o eleitorado que votará num candidato mais à direita que o do PS. É que, no fim do dia, os que agora são ferozes opositores, continuarão a ser do PSD e do CDS e lutarão para ter o apoio do seu partido quando decidirem avançar.

Há que encher o ringue para ver quem vai ao tapete primeiro. Quanto mais populada a luta no ringue estiver agora, mais fácil será ganhar para quem chegar em último. E o combate ainda nem começou.

 

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«As circunstâncias são o dilema sempre novo, ante o qual temos de nos decidir. Mas quem decide é o nosso carácter.»
- Ortega y Gasset

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