Presidenciais
"It looked artificial, but it was full of real birds"
V S Naipaul - "A Bend in the River"
As presidenciais sofrem de um dilema insolúvel: como fazer campanha para um cargo que é essencialmente reactivo? Esta característica não lhe retira importância, como se verificou nos últimos anos com o mandato desastrado de Cavaco Silva, mas condena os candidatos a um exercício ingrato de se verem obrigados pela opinião pública a apresentar uma "visão para o país", que sabem que não tem qualquer possibilidade de pôr em prática.
Alguns candidatos optam por ignorar as limitações do Presidente da República e apresentam promessas de medidas concretas sem explicar como iriam concretizá-las no presente quadro constitucional.
Vive-se então uma campanha imaginária que se mantém apesar do uso reiterado da figura de árbitro como metáfora para o cargo. Ora, o árbitro (assim espero) não pode ter a priori qualquer plano de como deverá decorrer a partida, pese embora um mau árbitro possa desvirtuar a normalidade do jogo.
Nem a utilização de dilemas concretos resolve a questão das presidenciais: por um lado, a resposta de como teriam agido perante uma situação passada sofre sempre de viés de retrospectiva; por outro, perante uma situação hipotética os candidatos tendem a defender-se, alegando não querer fazer futurologia ou comprometer-se em demasia.
Assim, as presidenciais acabam por ser definidas pelas características pessoais dos candidatos: a sua gravitas (que lhe garanta o respeito não só dos cidadãos mas também dos seus interlocutores políticos), o poder da palavra (que lhe possa permitir enquanto Presidente da República marcar a agenda política através da utilização do púlpito presidencial) e o engenho político (que lhe confere a capacidade de usar em seu proveito as duas primeiras).
Haverá algum candidato que reúna estas caracteristicas?