Poupar no pensamento
"A validade lógica não é uma garantia da verdade"
David Foster Wallace
O tema principal na edição de Março da revista "National Geographic" é a guerra à ciência, e como, apesar da existência de consenso cientifico, é negada por uma parte considerável da sociedade a existência do aquecimento global, da evolução, da chegada do Homem à Lua; e os benefícios da vacinação.
Todos estes exemplos partilham um ponto em comum: resultam do manifesto divórcio entre senso comum e ciência. Esta tendência que se havia iniciado em meados do século XIX com Darwin e o nascimento da geometria não euclidiana, teve o seu culminar na passagem para o século XX. A partir deste momento a ciência (ex: mecânica quântica, teoria da relatividade) tornou-se contra-intuitiva, deixou de ser apreensível e compreensível por leigos, o que deu origem à famosa frase atribuída a Richard Feynman "se achas que entendes o que é a mecânica quântica é porque não entendes o que é a mecânica quântica".
Este fosso entre o conhecimento científico e o senso comum acaba por ser reforçado pelo aumento da desconfiança nas instituições, que num mundo ideal dariam credibilidade às diversas teorias.
Na economia existe também este fosso, que é aproveitado e intensificado para fins políticos. Deste modo, discursos que demonizam a dívida pública, o deficit, em nome das gerações vindouras, e defendem a virtude da poupança, dos cofres cheios continuam a ser usados porque fazem sentido, são intuitivos.
E de facto é preciso fazer algum esforço intelectual para aceitar que o Estado não é uma família, nem a poupança é sempre boa nem a dívida é sempre má. Infelizmente, não é preciso efectuar qualquer esforço para sentir os efeitos dessa política assente em pressupostos errados.