Política pós-verdade
To most voters out in the vast middle, consensus across parties is a very strong indicator of acceptability. Conversely, if there is no support on the other side — if the proposal is controversial — there is something suspect about it.
O PSD, através do seu porta-voz, afirmou que o Governo não contará com o seu apoio político e Passos Coelho na entrevista à RTP disse que Costa devia apresentar a demissão caso ficasse dependente dos votos dos sociais-democratas. Acresce que a direita não perde uma ocasião de lançar acusações de ilegitimidade democrática, chegando mesmo a apelidar o governo de "socialista e comunista".
Esta radicalização da oposição parece supor uma estratégia concertada de transformar o Governo do PS em extremista, esvaziar o centro, e gerar tal controvérsia em torno das propostas do governo que estas passem a parecer irrazoáveis à opinião pública. Presumo que ao mesmo tempo a coligação de direita irá tentar apresentar projectos de lei que tenham apoio do PS e assim criar uma imagem de moderação, reclamando como seu um novo centro político.
Poderemos, então, estar a assistir ao nascimento - do qual o episódio do PEC 4 foi o primeiro sintoma - de uma nova realidade: a política pós-verdade. Um termo cunhado por David Roberts em que a política-politics (as tácticas partidárias, a narrativa construída pelos órgãos de informação e o conjunto de opinião pública) se encontra desconectada da politica-policy (no sentido de substância).
Será interessante perceber como vão reagir os eleitores a esta realidade? Será que irão reagir com um maior afastamento, maior abstenção e aumento de radicalização? E não será essa o efeito pretendido desta estratégia?