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365 forte

Sem antídoto conhecido.

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18
Mar15

Podridão

Sérgio Lavos

Viver todos os dias cansa. Sobretudo em Portugal, o país em que a anormalidade é habitual e tornou-se regra, o país que se pode orgulhar de ter um primeiro-ministro que mentiu mais vezes publicamente do que a maior parte de nós mente durante toda a vida, algumas delas no parlamento, lugar onde, segundo a lei, é obrigado a dizer a verdade sob pena de incorrer em crime, tal como acontece num tribunal.

A última mentira aconteceu quando garantiu que não existia lista VIP. Assegurou, olhos nos olhos perante o deputado do PS que o questionou, olhos nos olhos de todos nós, portugueses, que nada sabia de tal lista. É claro que essa lista existia. Aliás, a melhor maneira de entendermos a realidade do país, neste momento, é acreditarmos no contrário do que o Governo (e o seu porta-voz, Cavaco) diz. Quando nos asseguraram que o BES era sólido, quando agora garantem que nada sabiam do que se passava lá dentro, quando primeiro mentem, depois ocultam e depois admitem como se antes não tivessem jurado o oposto. Mentir é a segunda pele destes governantes, liderados por um Passos que ficará para a História como o pior primeiro-ministro desde o 25 de Abril, um menino que nos faz recordar com saudade o Governo de Santana Lopes, um tipo sem carácter, medíocre até à raiz dos ossos. 

E Passos e os governantes sabem, estão carecas de saber, que já ninguém acredita neles. Como acreditar? Como acreditar que o primeiro-ministro não sabia de nada, que não é o responsável directo, com conhecimento, pela criação da lista VIP? Como não, se esta foi criada no auge do escândalo Tecnoforma, em Setembro passado, quando foi revelado que nos anos 90 Passos não tinha declarado rendimentos? A lista VIP existe, e existe apenas porque alguém da Autoridade Tributária decidiu consultar o processo de Passos e passar a informação aos jornais. Pode-se questionar a legalidade desta consulta (sou contra o sigilo fiscal absoluto de titulares de cargos públicos, mas a verdade é que ele existe), mas o que não se deveria poder questionar é a sequência de acontecimentos: alguém consultou, foi noticiada a fuga ao fisco de Passos nos anos noventa, a hierarquia ordenou aos serviços que se encontrasse os culpados, e foi criado um filtro que na prática dava o alarme de cada vez que alguém consultava os dados fiscais de Passos e de outras personalidades públicas (quase que aposto que todos os governantes estão nesta lista). Mas alguém acredita, por um momento que seja, que esta iniciativa não foi tomada com o conhecimento do secretário de Estado Paulo Núncio e com indicação directa do primeiro visado, Pedro Passos Coelho? Somos todos assim tão tontos, ou sonsos, ou já estamos tão anestesiados que aceitamos tudo o que nos tentam enfiar pela goela abaixo? 

O que cansa é a modorra instalada, pelo menos até às eleições. Mas não nos iludamos: esta sensação de impunidade absoluta de que gozam os governantes está a fazer mossa na democracia. Não é uma questão circunstancial, passageira. O dano que está a ser infligido por este Governo e por este Presidente da República nas instituições vai ser muito difícil de reparar. Pior: a sensação de crime sem castigo a que o Governo está associado está a bater fundo nos portugueses. Seja qual for o próximo Governo, vai ter de mostrar que a democracia é mais do que isto, esta triste História, um conjunto de incompetentes mal intencionados tomando o aparelho de Estado e subvertendo algumas leis democráticas e todas as regras de bom senso e, sobretudo, decência. Deixar de acreditar nos políticos e na política é deixar de acreditar na democracia. O legado desta gente será difícil de ser apagado. 

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