Os políticos são como nós
Parece haver burburinho em certos quadrantes pelo facto de um dirigente da JSD ser concorrente na nova temporada da “Casa dos Segredos”. As críticas parecem congregar-se em torno de dois polos: o ser candidato a um “reality show” é algo que desnobrece a actividade política, argumento usado principalmente por quem ainda considera a actividade política como algo de elitista — a visão de que os políticos devem ser os “melhores” da sociedade — o que sendo simpático indica uma visão utópica da sociedade; ou então temos o segundo argumento, a ideia de que um político que concorre a este tipo de programa está a ser populista, a querer agradar a segmentos “populares” do eleitorado, o que na actual senda “anti-populista” que o Bloco Central está a travar é quase crime capital.
É claro que todos esses argumentos caem na base através da lembrança de factos simples:
Tivemos dois Primeiro-Ministros sucessivos que vieram de um programa de televisão em que se degladiavam semanalmente para deleite das massas.
O nosso actual Primeiro-Ministro assumiu o cargo poucos meses depois de ter sido comentador no programa televisivo de análise política mais antigo do nosso país.
O Presidente da República em funções proveio de um segmento de variedades no telejornal mais visto do canal de televisão com mais audiência em Portugal.
Com este historial dos nossos mais altos dignatários, podemos dizer que a participação na “Casa dos Segredos” é apenas a evolução natural da política portuguesa.
Há verdades que muitos de nós têm dificuldade em interiorizar. Uma delas é que os políticos em democracia são pessoas como todos os outras. Aliás, é essa uma das virtudes do regime democrático. Nós queremos eleger pessoas que conhecemos, em que nós vejamos reflectido algo que também possuímos. Alguns de nós podem dar primazia às suas ideias, às suas propostas, à sua preparação, ao seu conhecimento. Mas outros podem dar primazia ao facto de serem pessoas com as quais nos identificamos, da “vida real”, o que neste caso significa pessoas que tenham uma vida parecida com a nossa, algo que nos possamos identificar facilmente, em vez das “torres de marfim” em que a classe política normalmente se encerra, longe do povo que deveria representar e governar.
Podem chamar a isso populismo, mas este acto de participação na “Casa dos Segredos” pode ser um bom contributo para o aprofundar da nossa democracia. Os políticos são pessoas como nós, muitos vêem os programas que nós vemos, alguns participam nos programas que gostamos.
E isso é democracia.