Obras que entram pelos olhos dentro
Uma pessoa lê a notícia e fica confusa. E li-a duas vezes.
Então ao que parece estamos perante uma "via de acesso às zonas industriais de Famalicão, Trofa e Maia, onde estão instaladas empresas com forte vocação exportadora". Segundo escreve a Lusa, é "atravessada diariamente por cerca de 30 mil veículos, nomeadamente pesados, com constantes estrangulamentos".
E, ainda de acordo com a mesma notícia, a solução "económica mas eficiente" (??) passa por duplicar e requalificar a estrada nacional, fazer umas rotundas e uma ponte.
Os "30 mil veículos, nomeadamente pesados", que diariamente ali têm que passar para escoar produção industrial veem assim os seus problemas resolvidos. Meia dúzia de rotundas, uns alargamentos e ficamos todos muito felizes.
Felizmente, fomos abençoados com este génio que dá pelo nome de Pedro Passos Coelho e que nos brinda com estas suas soluções "económicas mas eficientes". Um visionário!
Eu confesso que não fui abençoado com o brilhantismo e a inteligência de Pedro Passos Coelho.
Confesso que não consigo perceber como é que uma via com um fluxo diário de 30 mil veículos, para escoamento de produção industrial, não deve ser convertida em autoestrada. Não percebo, lamento.
Pior: li a notícia duas vezes (como referi acima) e não consegui perceber como é que na altura em que os fundos comunitários "privilegiavam as infraestruturas rodoviárias" (foi Pedro quem o disse), a melhor solução (económica e eficiente, para recorrer ao jargão técnico de PPC) não era, precisamente, aquela que foi gizada: a da criação de uma variante com perfil de autoestrada.
Fiquei também sem perceber do que é que Passos Coelho falava quando referiu o "tanto dinheiro" que terá sido gasto nos tempos de "vacas gordas". Ele lá saberá, e eu acho que já temos aqui confusão a mais para tentar abordar apenas num post.
Apesar de não perceber o que raio anda Passos Coelho a dizer, acho que a minha memória está boa. É que eu ainda me lembro de outras soluções assim poupadinhas, em termos de infraestruturas rodoviárias. Para poupar uns trocos, em vez de uma autoestrada fazia-se um itinerário principal, frequentemente com traçados sinuosos para evitar a construção de túneis ou pontes.
Esta "poupança" de uns trocos materializou-se num enorme custo em vidas. E na inevitável decisão (que apenas pecou por tardia) de corrigir o erro e converter alguns dos nossos "IP" em "AE", investindo mais do que aquilo que se teria investido se a decisão inicial tivesse sido, desde logo, a mais... económica? ...eficiente?
Uma outra palavra descreve-o melhor: inteligente.