O triunfo da decadência
Não aprendemos nada. Ninguém quis saber. Nunca como nos últimos cinco anos sentimos na pele como as grandes decisões que afectam o nosso dia-a-dia, a evolução da nossa sociedade, a nossa situação económica e financeira são tomadas em Bruxelas. Em Bruxelas, Luxemburgo, Frankfurt e Estrasburgo. Não quisemos saber. Andámos as últimas semanas como se estivéssemos em 1992. A Europa é gira e tal, há umas cenas que importam, mas eu quero é falar sobre o que fazer cá no burgo. Parlamento Europeu? Who cares. Não importa para nada. É para tachos, é abolir aquela merda. Eleger gente para quê? Para nos representar? Políticos, ainda por cima longe do meu olho? Ca nodja. É fechar aquilo e é já. Preferimos todos não eleger ninguém e deixar o nosso futuro na mão de um bando de sábios que nos últimos anos apenas demonstraram serem sabichões. Presidente da Comissão Europeia? Querolásaber. Até parece que me aquece ou arrefece. A troika sim, fora daqui, fez um bom trabalho, foi um horror, e o Sócrates, o Sócrates! A troika era o FMI, e outras duas cousas que agora não me recordo. Mas tenho lá tempo para perder com candidatos a presidentes da Comissão Europeia. Também era de abolir isso, que isto era um terra de gente honrada e de bons costumes antes da CEE. Estávamos perto daquele tempo onde não havia défices, tempos dourados onde a regra d'ouro era cumprida à força toda, isso sim, isto da CEE, UE, ou que é, só dá chatices. E agora ainda tenho que perder tempo a ouvir propostas para o continente? Mas e a minha rua? Ah, sim, surf nas escolas, fale-me mais disso. E o Sócrates, esse malandro, como é que ainda não está preso ou apedrejado? Conte-me mais doutor Nuno Melo, conte-me tudo. Fale-me da besta do Sócras, do vírus do PS, do despesismo, fale-me disso tudo, que eu de Europa não quero saber, não serve para nenhum. Bora sair daquilo assim à bruta e prontus, como defende o camarada João Ferreira, bora lá pessoal, siga, é rasgar os tratados, viva a independência do condado portucalense, viva viva, que venha o escudo, que venha, que eu não quero saber de consequências disso nem eles estão para explicar. Eu quero é saber de selfies, ah tão giro que ficou o doutor Seguro, que já apresentou o programa de Governo enquanto apresentava o Assis, que isto assim poupa-se tempo, só faltou apresentar o candidato ao Palácio de Belém e às municipais. É a despachar, que o povo não quer saber de Europa, quer é ver os gatunos punidos, força Gil, força senhor-da-Madeira, força ex-bastonário Marinho, que vai defender bué o interesse da população, apesar de muito provavelmente não ir ter grupo parlamentar em Estrasburgo e, como tal, ficar lá sem fazer nenhum. Mas isso agora não interessa nada, ele diz que vai lutar contra o lobby gay e contra quem andou a meter dinheiro nos bolsos e eu gosto disso, cheira-me bem, que se foda a Europa.
Não aprendemos nada. Fora excepções, ninguém quis saber e ninguém quis comunicar. Eu sei onde voto no domingo e não é em gente que despreza o acto eleitoral que nesse dia acontecerá. Que vergonha, caramba.