O tiro pela culatra
A RTP tem de decidir-se. Ou mantém o formato de comentário semanal com Sócrates e Morais Sarmento, e então aquilo a que ontem assistimos foi uma deturpação desse formato, ou transforma os espaços semanais em entrevistas aos comentadores, o que é um absurdo formal que seria completamente inaudito.
Ainda assim, Sócrates saiu-se bem, melhor ainda do que na entrevista inicial quando regressou à RTP. Apesar da mal disfarçada agressividade de Rodrigues dos Santos - que contrasta vivamente com as várias entrevistas feitas a Passos Coelho desde que este é primeiro-ministro - o antigo primeiro-ministro soube estar à altura, esclarecendo as contradições entre o que disse antes e o que diz agora.
E por falar em entrevistas esclarecedoras a políticos: onde pára o programa de perguntas feitas por telespectadores que, estranhamente, apenas teve uma emissão, dedicada a Passos Coelho? Aquilo que não passou de uma vergonhosa sessão de propaganda governamental na televisão pública não teve continuidade, ficando por entrevistar os outros líderes partidários. Não quero acreditar que o canal público, ameno nas conversas que tem mantido com o primeiro-ministro e feroz nos programas de comentário de José Sócrates, queira ser, no fundo, não mais do que um veículo de propaganda governamental. E a independência prometida por Maduro (não o venezuelano, mas o Poiares da propaganda)? Veremos o que o futuro nos trará. Mas não esperemos demasiado.