O salário é meo
“Eu não gosto de pagar salários. Pago o mínimo que puder”
Patrick Drahi, presidente da Altice (proprietária da PT Portugal)
Nos primórdios do capitalismo acreditava-se que o salário deveria corresponder ao mínimo necessário para sobreviver, mais do que isso seria um convite ao absentismo - deixaria de existir um incentivo para que os trabalhadores se apresentassem diariamente.
Posteriormente algumas entidades patronais perceberam que pagar mais do que a média da sua actividade traz diversos benefícios para as suas empresas, nomeadamente uma maior assiduidade e elevada produtividade. Tal decorre essencialmente de quatro aspectos:
- Pagar aos trabalhadores acima da média do mercado faz com que estes fiquem agradecidos e, por via disso, sentem a necessidade de retribuir trabalhando mais e melhor;
- Os trabalhadores sabem se perderem o emprego o mais provável é acabar num posto de trabalho com um salário mais baixo: por isso estão motivados para se manterem na empresa;
- A empresa pode ser mais exigente na altura da contratação;
- O salário atrai os trabalhadores mais qualificados;
Estes exemplos fizeram com que se acreditasse que se vive numa nova era. Uma era de simbiose entre patronato e trabalhadores, de interesses partilhados e comuns, na qual o conceito de luta de classes seria anacrónico, apenas utilizado pelos ultrapassados comunistas. Assim sendo não faria sentido uma especial protecção legal dos trabalhadores, uma vez que por um lado, as empresas estariam a ir contra os seus próprios interesses ao não tratar bem os trabalhadores; e por outro lado, os tempos são agora de maior compaixão e empatia, de responsabilidade social, longe vão os tempos narrados por Dickens.
Sucede que, como é óbvio, para se pagar acima da média é preciso que a maior parte pague dentro da média. Caso contrário desaparecem parte dos benefícios que decorrem daí. Deste modo, e apesar de diversa propaganda em contrário, a vontade da maior parte das empresas continua a ser gastar o mínimo possível em salários, já que este continua a ser percepcionado como um custo - e como se sabe todos os custos devem ser reduzidos e se possível anulados - e não como um investimento.
Tal intenção, pese embora ser perfeitamente legítima, tem implicações na forma como devem ser entendidas as relações laborais - a contratação colectiva, o salário mínimo nacional - dado que estas continuam a ser conflituantes, por vezes, antagónicas e, acima de tudo, desequilibradas.