17
Fev14
O "pisca-pisca"
Diogo Moreira
António Costa referiu, na Quadratura do Círculo da semana passada, o célebre cliché interno da "política do pisca-pisca" do PS. Usado como arma de arremesso, durante a ascensão de Guterres, contra a ala esquerda do partido, esta expressão cristaliza a ideia de que o PS não precisa de sinalizar publicamente que é um partido de esquerda, bastando a afirmação natural da sua identidade para que o eleitorado saiba o que o PS representa, e defende.
Não será de estranhar que o "pisca-pisca" tenha reaparecido nesta altura, sobretudo pela mão de António Costa. O PS dessa geração teve uma relação conturbada com a ideologia, preferindo sempre a "terceira-via" como forma de evitar tomar posições ideológicas definidas, algo que convínhamos esteve na raiz da vitória dos anos 90, e cujo efémero consulado de Ferro Rodrigues não conseguiu minorar.
O problema é que já não estamos na época da "terceira-via". Não estamos a defrontarmo-nos com o PSD conservador e quasi-estatizante do cavaquismo, mas sim com a sua variante PRL (Partido Revolucionário Liberal na feliz designação de Daniel Oliveira).
As próximas campanhas eleitorais terão uma forte componente ideológica, talvez a mais forte desde a década de 70. Isto, claro está, se o PS as quiser ganhar. A defesa do Estado Social, da protecção aos mais desfavorecidos, da luta contra a austeridade, por uma Europa mais social e solidária, só poderão ser feitas numa tonalidade ideológica, por oposição ao neoliberalismo.
Caso contrário, se o PS continuar a permitir, nem que seja por omissão, que a narrativa desta crise seja a da direita, em que a culpa desta situação foi do Sócrates e do último governo PS, ou que a solução passa pela "austeridade de rosto humano" ou pela "austeridade sem política de austeridade", não se vislumbra um futuro muito risonho para o partido.
Neste contexto, tal como os "pisca-pisca" são essenciais para que os outros condutores saibam para que lado vamos na estrada, talvez o PS precise de sinalizar ao eleitorado de que lado está nesta disputa.
Não será de estranhar que o "pisca-pisca" tenha reaparecido nesta altura, sobretudo pela mão de António Costa. O PS dessa geração teve uma relação conturbada com a ideologia, preferindo sempre a "terceira-via" como forma de evitar tomar posições ideológicas definidas, algo que convínhamos esteve na raiz da vitória dos anos 90, e cujo efémero consulado de Ferro Rodrigues não conseguiu minorar.
O problema é que já não estamos na época da "terceira-via". Não estamos a defrontarmo-nos com o PSD conservador e quasi-estatizante do cavaquismo, mas sim com a sua variante PRL (Partido Revolucionário Liberal na feliz designação de Daniel Oliveira).
As próximas campanhas eleitorais terão uma forte componente ideológica, talvez a mais forte desde a década de 70. Isto, claro está, se o PS as quiser ganhar. A defesa do Estado Social, da protecção aos mais desfavorecidos, da luta contra a austeridade, por uma Europa mais social e solidária, só poderão ser feitas numa tonalidade ideológica, por oposição ao neoliberalismo.
Caso contrário, se o PS continuar a permitir, nem que seja por omissão, que a narrativa desta crise seja a da direita, em que a culpa desta situação foi do Sócrates e do último governo PS, ou que a solução passa pela "austeridade de rosto humano" ou pela "austeridade sem política de austeridade", não se vislumbra um futuro muito risonho para o partido.
Neste contexto, tal como os "pisca-pisca" são essenciais para que os outros condutores saibam para que lado vamos na estrada, talvez o PS precise de sinalizar ao eleitorado de que lado está nesta disputa.