09
Jan15
O monstro precisa de amigos
Nuno Oliveira
Monstros. Bestas. Bárbaros. É sempre mais fácil vê-lo no outro que em nós. É sempre tão mais difícil questionar a nossa monstruosidade.
Não nos questionámos quem seria o sujeito capaz de aplicar repetidos golpes no pénis de Benyam Mohammed. Os Michael, o Serge, ou Armindo que durante duas horas aplicaram 20 a 30 competentes cortes no pénis do detido.
Não questionámos como os seus vizinhos os veriam. Certamente os vizinhos os avaliariam como pessoas normais. Imagino que o vizinho da porta ao lado diria Nunca poderia imaginar que aquele senhor cordato seria capaz de tamanha monstruosidade.
Como não nos questionamos o que fez esse burocrata da lâmina de barbear quando saiu do trabalho. Possivelmente os golpes terão durado apenas duas horas porque o zeloso funcionário terá pedido para sair mais cedo.
Após aquelas duas horas em que escrupulosamente efectuou 20 a 30 cortes no pénis de Benyam Mohammed o amanuense Michael, Serge ou Armindo terá ido apressadamente lavado as mãos, corrido para o casaco esquecido nas costas da cadeira e colocado o seu passo mais apressado para chegar ao colégio dos filhos antes das 17h.
Como não questionamos o sorriso fraterno com que a sua filha de 8 anos e o seu filho de 5 abraçam calorosamente o pai agachado para os receber. Como não nos questionamos em que pensavam os seus filhos quando agarrados às mãos do pai - aquelas mãos - se dirigem para o carro em que seguirão para fazer as compras de mais um caloroso jantar do serão familiar.