Saltar para: Post [1], Comentários [2], Pesquisa e Arquivos [3]

365 forte

Sem antídoto conhecido.

Sem antídoto conhecido.

08
Fev14

Ó mar salgado

Pedro Figueiredo

                                                     Crédito da foto de Vítor Cruz

 

Depois dos últimos acontecimentos na costa portuguesa com a força das ondas a galgar praias - parece que este fim-de-semana o alerta voltou a soar -, vem à memória uma ideia que a minha avó repetia cada vez que surgiam as marés vivas entre o final de Agosto e o princípio de Setembro (variava com as fases da lua). «O mar ainda há-de recuperar aquilo que a terra lhe roubou».

Sabedoria popular que cada um dará a importância que quiser, mas neste caso particular, sempre fui como o São Tomé: ver para crer. Uma expressão mais acessível do que considerar-me cético por natureza.

A verdade, é que por aquilo que me dá a ver por esta recente imagem da praia da Barra, posso garantir que nos últimos 30 anos (mais visível na última década), o mar recuperou mais extensão de praia do que a distância entre a atual linha de praia e as casas que se veem atrás. Não é a costela nostradamica da minha avó que me preocupa e sim o que realmente o mar está a conseguir recuperar.

A construções de paredões e o aumento dos antigos ajuda não só à navegação na entrada dos portos, como o de Aveiro, mas também, de certa forma, a travar o avanço do mar que, vê-se agora, não está a surtir grande efeito.

Isto somado a um selvagem ordenamento do território (melhor nos últimos anos) que permitiu o alargamento das povoações ao longo da costa, simplesmente porque ter casa na praia era e continua a ser um privilégio. A fatura está a chegar e desta vez não o aumento do IMI que mete medo.

Não vou entrar em pormenores geográficos sobre Aveiro e das suas condições naturais que a entrada da Ria proporciona. No meu tempo de adolescente, naqueles saudosos trabalhos de Verão promovidos pelo antigo FAOJ, estive na Reserva Natural das Dunas de São Jacinto e aprendi que é a duna secundária (a maior e a última a ser geologicamente formada) que naturalmente serve de obstáculo ao avanço do mar.

Acontece que nem toda a costa tem esse travão. A Barra e a Costa Nova (pior ainda a Vagueira) mostram-se altamente vulneráveis à força do mar, independentemente de ter inúmeros pontões construídos.

O Presidente da República afirmou em Novembro de 2012 que os portugueses tinham de saber ultrapassar estigmas e voltar a prestar atenção a setores que esqueceu nas últimas décadas: mar, agricultura e indústria. Esqueceu-se foi de lembrar igualmente que as duas primeiras, se desapareceram, às suas políticas enquanto PM o deve, quanto mais não tenha sido por omissão nas negociações que decorriam com os parceiros europeus.

O mar deveria, realmente, ser visto com especial atenção. Em vez de se ouvir alarvidades como a que foi proferida por Lobo Xavier na última Quadratura do Círculo («Devia passar-se fundos da ciência para as empresas», em resposta ao corte cego – mais um – nas bolsas de investigação), poderia envolver-se as universidades na procura de novas soluções para o progresso científico ao serviço da dinamização da economia. Aliás, nunca percebi muito bem porque nunca se aprofundou com mais seriedade a possibilidade de se obter energia a partir da força das marés.

Já é um chavão fazer-se referência ao tamanho da zona exclusiva marítima portuguesa. Mas é sempre bom lembrar que o Atlântico Sul europeu é nosso e que só isso bastaria para promover estudos mais sérios sobre como tirar partido disso mesmo. Assim se pensa o país. Mas isso é pedir muito. Recorde-se também que quando a antiga IP5 acabou de ser construído, servindo como porta de entrada por excelência à livre circulação de pessoas, bens e capitais na Europa, chegou-se à conclusão que seria insuficiente para as exigências de tráfego gerado. Já para não falar nas questões de segurança. Mais uma “estrada da morte” para juntar a outras que o país já tinha.

Também neste particular, Aveiro foi bafejada. Está no limite da mais estreita faixa de terra para se ir do Atlântico a Espanha. Por Vilar Formoso. Começou então a fazer-se a A25. De estradas ainda há mais histórias para contar, mas isso pode ficar para outro post.

Há, no entanto, portugueses que já responderam ao apelo do Presidente da República. Viraram-se para o mar. O pormenor que deveriam ter em conta em relação ao mar é que, tirem o partido que tirarem, têm de aprender a respeitá-lo. O que aconteceu no Meco prova isso mesmo. Mas não é caso único. Houve alguém, muito melhor do que eu, que apanhou bem o espírito da “nova vaga”. Perdoem a expressão.

 

 

6 comentários

Comentar post

«As circunstâncias são o dilema sempre novo, ante o qual temos de nos decidir. Mas quem decide é o nosso carácter.»
- Ortega y Gasset

Subscrever por e-mail

A subscrição é anónima e gera, no máximo, um e-mail por dia.

No twitter

Arquivo

  1. 2024
  2. J
  3. F
  4. M
  5. A
  6. M
  7. J
  8. J
  9. A
  10. S
  11. O
  12. N
  13. D
  14. 2023
  15. J
  16. F
  17. M
  18. A
  19. M
  20. J
  21. J
  22. A
  23. S
  24. O
  25. N
  26. D
  27. 2022
  28. J
  29. F
  30. M
  31. A
  32. M
  33. J
  34. J
  35. A
  36. S
  37. O
  38. N
  39. D
  40. 2021
  41. J
  42. F
  43. M
  44. A
  45. M
  46. J
  47. J
  48. A
  49. S
  50. O
  51. N
  52. D
  53. 2020
  54. J
  55. F
  56. M
  57. A
  58. M
  59. J
  60. J
  61. A
  62. S
  63. O
  64. N
  65. D
  66. 2019
  67. J
  68. F
  69. M
  70. A
  71. M
  72. J
  73. J
  74. A
  75. S
  76. O
  77. N
  78. D
  79. 2018
  80. J
  81. F
  82. M
  83. A
  84. M
  85. J
  86. J
  87. A
  88. S
  89. O
  90. N
  91. D
  92. 2017
  93. J
  94. F
  95. M
  96. A
  97. M
  98. J
  99. J
  100. A
  101. S
  102. O
  103. N
  104. D
  105. 2016
  106. J
  107. F
  108. M
  109. A
  110. M
  111. J
  112. J
  113. A
  114. S
  115. O
  116. N
  117. D
  118. 2015
  119. J
  120. F
  121. M
  122. A
  123. M
  124. J
  125. J
  126. A
  127. S
  128. O
  129. N
  130. D
  131. 2014
  132. J
  133. F
  134. M
  135. A
  136. M
  137. J
  138. J
  139. A
  140. S
  141. O
  142. N
  143. D
  144. 2013
  145. J
  146. F
  147. M
  148. A
  149. M
  150. J
  151. J
  152. A
  153. S
  154. O
  155. N
  156. D
  157. 2012
  158. J
  159. F
  160. M
  161. A
  162. M
  163. J
  164. J
  165. A
  166. S
  167. O
  168. N
  169. D