O futuro de uma ilusão
"In England such concepts as justice, liberty and objective truth are still believed in. They may be illusions, but they are powerful illusions. The belief in them influences conduct, national life is different because of them."
George Orwell
Do estudo de Platão no secundário retirei que o mundo real, os humanos e as suas instituições são sempre imperfeitas, mas, como refere Orwell, é essencial que exista um ideal que nos molde e que nos inspire. A UE detinha essa característica essencial: conseguia transmitir um ideal de civilização, apesar de todas os seus problemas e de toda a hipocrisia e cinismo dos nossos tempos.
O projecto político da UE consistia na união de Estados soberanos e iguais entre si a fim de criarem uma prosperidade partilhada. Esta interdependência tornaria obsoleta a competição e inveja entre Estados, o que, por sua vez, seria garante de paz - finalidade última. Uma união de iguais em democracia com vista a um aumento sustentado dos níveis de vida: este era o ideal europeu.
Infelizmente (sem embargo de a "Europa" ser usada demasiadas vezes como uma desculpa fácil para os governos nacionais), como acontece nas grandes máquinas burocráticas, os meios tornam-se nos fins: as normas, afastadas do seu elemento teleológico, tornam-se quase leis da natureza cujo cumprimento é a única coisa que importa. A UE tornou-se divisiva, surgindo um clima de ressentimento e desconfiança entre os membros. Mas, pior do que tudo, destruiu o seu ideal. Actualmente, para o europeu comum, a UE transformou-se em sinónimo de austeridade, de empobrecimento sem melhoria num futuro próximo, de uma agenda ideológica imposta por burocratas excluídos do julgamento democrático.
Resultado: os argumentos para a manutenção de um país na UE deixam de ser os benefícios da sua pertença, mas sim os malefícios da sua eventual saída.