O insuportável fedor da mentira
É preciso relembrar, tantas vezes quantas for necessário, o que dizia Passos Coelho candidato, comparando com o que fez quando se alçou ao pote. Em Abril de 2011, depois do chumbo do PEC IV e já em campanha para as legislativas que viria a ganhar, disse o candidato:
Mas o mundo mudou, e logo em Junho desse ano, mal tinha o Governo tomado posse, o primeiro-ministro veio anunciar o corte de 50% do subsídios de Natal de todos os portugueses. A partir de 2012, acelerou-se o processo de passagem de dezenas de milhar de funcionários públicos para a requalificação e começaram as rescisões por mútuo acordo. No orçamento desse ano apareceram os primeiros cortes nos salários dos funcionários. O Tribunal Constitucional foi aprovando estas medidas avisando que teriam de ser provisórias, isto é, teriam de durar o tempo que durasse o memorando de entendimento. Este aviso é explicitado nos ácordãos sobre a constitucionalidade dos orçamentos de Estado de 2012 e 2013. A somar a estes cortes e a estes despedimentos (recorde-se que Passos chegou a tentar tornar legal o despedimento sem justa causa no Estado, pretensão chumbada pelo TC), tivemos cortes em pensões, que o Tribunal também aceitou apenas depois do Governo ter garantido que seriam transitórios. Na realidade, e como se veio a provar, o Governo não tem feito outra coisa a não ser enganar o Tribunal Constitucional (e os portugueses) e prepara-se para tornar definitivos os cortes nos salários dos funcionários públicos e nas pensões:
O que era temporário passa a ser temporário por tempo indefinido, o que na prática significa que os cortes se tornaram definitivos, sobretudo quando for publicada a nova tabela salarial da função pública. Resumindo: Passos Coelho tem persistido na mentira desde que começou a cheirar o poder. Com uma dedicação patológica. Mentiu a todos antes das eleições, mentiu ao Tribunal Constitucional já como primeiro-ministro, e continua a mentir agora, quando afirma que os cortes serão "temporários" por tempo indefinido. O rendimento de pensionistas e funcionários públicos em dois anos já levou cortes que chegam aos 40%, para os primeiros, e 30%, para os segundos. Imagino que o "sucesso do programa de ajustamento" também passe por aqui: a verdade enquanto categoria moral era sobrevalorizada e acabou por ser reajustada. Da palavra de Passos emana um fedor insuportável. Passou a valer menos, muito menos, que nada.