O cheque ensino e a hipocrisia
Li há pouco no Público.pt um artigo de opinião do Paulo Guinote com o qual concordo na íntegra. O essencial do raciocínio está resumido no seguinte parágrafo:
"A verdade é que quem nega cerca de 300 euros para a sobrevivência de uma família com os pais e um filho ou pouco mais de 400 euros para uma família com pais e três filhos é em tantas situações quem quer esse valor para pagar o convívio social e heráldico da sua própria e desafogada descendência."
Aproveitando que este assunto veio à baila, deixo um desafio aos defensores do cheque ensino que ajudaria a eliminar a hipocrisia subjacente ao modelo. Esse desafio consiste em propor um modelo de cheque-ensino que coloque escolas e alunos em pé de igualdade. Fundamentalmente, gostava de ver um cheque-ensino que permitisse que qualquer aluno se inscrevesse em qualquer escola e não permitisse a selecção de alunos. Desta forma, os preços das propinas teriam que ser tabelados pelo valor do cheque, de forma a que não houvesse selacção pelos rendimentos da família. Naturalmente, as escolas com melhor posição nos rankings, irão ter enormes listas de espera, e aqui entra o ponto chave da proposta que eu gostava de ver. No caso de o número de candidatos ser superior ao número de vagas numa escola que receba cheque-ensino, a selecção teria de ser feita por sorteio.
Em suma, se me apresentarem um modelo que permita ao filho ou filha de um casal que vive com o salário mínimo ou com o subsídio de desembprego estudar nos Salesianos ou no S. João de Brito, estou disposto a discutir este assunto. Aí, eliminados ou reduzidos os efeitos de selecção social, veríamos como evoluiriam os rankings.
Estarão dispostos a colocar a questão nestes termos? Ou será que a razão principal para escolher uma escola privada não é a qualidade de ensino mas antes a composição social da sua população estudantil?
Até lá, penso que um ensino público universal e de qualidade continua a ser o melhor garante de (alguma) igualdade de oportunidades no acesso à educação.