Nudge gone bad
Cass Sustein, professor de Direito em Harvard e ex-membro da Administração Obama, é um dos grandes defensores do uso do "nudge" na administração pública.
"Nudge", muito resumidamente, utiliza a tendência para se deixar intacta a opção padrão perante a multiplicidade de escolhas que nos afecta diariamente, de forma a que, alterando essa opção num determinado sentido, aumente o benefício do cidadão em particular ou da sociedade em geral, sendo que se mantém a possibilidade de escolha caso seja efectuado um esforço.
Tal já acontece em relação à doação de órgãos para transplante: todos os portugueses são doadores; para o deixar de ser é necessário a inscrição no Registo Nacional de Não Dadores.
Neste exemplo, verifica-se o poder do "nudge": os cidadãos mantêm a possibilidade de objectar a doação de órgãos, mas para tal é necessário um esforço que a maioria das pessoas não está disposta (infelizmente muitos por desconhecimento) a efectuar, aumentando desse modo o universo de doadores, o que não aconteceria se a opção padrão fosse o contrário.
No que diz respeito à cláusula de de salvaguarda que irá permitir que os contribuintes que sejam prejudicados no cálculo do imposto em 2015 optem por ser tributados seguindo as regras de 2014, verifica-se o contrário - o Governo dá uma opção aos contribuintes para que estes não sejam prejudicados.
Assim, ao contrário do que ocorre no exemplo da doação de órgãos, a opção padrão imposta é de prejuízo para os contribuintes, o que demonstra má-fé do Governo e elucidativo da forma como este percepciona o contribuinte, e, ao mesmo tempo, vai degradando a confiança entre Estado e cidadão.