Não, não há mais precariedade em 2018 que em 2016
É natural que se procure sempre exercer um sentido crítico sobre todas as matérias. Não sendo possível criticar a criação de emprego pelo seu impressionante volume, as críticas voltam-se para outros aspetos. Assim, vários setores da direita à esquerda viraram-se para a “qualidade” do emprego criado.
É inegável que Portugal tem problemas (chamem-lhe “estruturais”, se quiserem) tanto no domínio da disparidade salarial como nas modalidades de contratação. E esses problemas precisam de respostas porque são uma séria limitação ao desenvolvimento económico do país.
Coisa diferente é pretender que a atual criação de emprego se distingue pelos baixos salários ou pela contratação precária.
Sobre salários, é evidente que a absorção de desempregados com baixas qualificações pressionaria o salário médio para baixo (como já aqui se abordou). Mas nos salários já se nota que este efeito de recomposição está a ser ultrapassado pela valorização salarial generalizada que se traduziu numa variação homóloga de 4,2% do rendimento médio mensal líquido nos dados recentemente divulgados.
Sobre contratos, sendo inegável a elevada precariedade que existe em Portugal, não é verdade que esta esteja a aumentar. Por algum estranho fenómeno, os recibos verdes que até há pouco eram o paradigma da precarização ficaram subitamente excluídos das avaliações sobre precariedade.
Os dados divulgados pelo INE para o segundo trimestre permitem leituras sobre a precariedade dos empregos criados. Mas para o fazer de forma intelectualmente honesta é conveniente retirar o efeito de sazonalidade que se traduz inevitavelmente em vínculos precários. Assim, é interessante observar como progrediu a natureza dos vínculos entre o segundo trimestre de 2016 e o segundo trimestre de 2018.
Quando fazemos esta comparação, o que notamos é que foram criados 271 mil empregos resultantes de 289 mil trabalhadores por contra de outrém e de uma redução em 10 mil do número de trabalhadores isolados. Na criação líquida de empregos por conta de outrém, os 289 mil, 246 mil foram em contratos sem termo e 43 mil em contratos com termo. Ora, se a avaliação se cingisse ao universo de trabalhadores por conta de outrém 85% do emprego criado (246/289) foi criado com vínculos permanentes. Sendo esta relação melhor na variação que no universo dos trabalhadores por conta de outrém (em que 78% dos trabalhadores está contratado a termo certo), a conclusão é que a precariedade se reduziu. Se esta análise incluísse os trabalhadores por contra própria teríamos então que 90% da variação líquida de emprego seria explicada por vínculos permanentes.
Mas não nos iludamos. A precariedade não está a aumentar mas situa-se em níveis excessivamente elevados, inadmissíveis até, quando a colocamos em comparação com os restantes países europeus. E também é verdade que não precisamos dizer que a precariedade está a aumentar para dizer que algo tem que ser feito.
E por isso em boa hora está a ser feito o presente debate sobre as medidas que podem limitar o acesso e o uso de vínculos atípicos por parte das entidades empregadoras e até com a aceitação das associações patronais.