Movimento perpétuo
“Politically speaking, tribal nationalism always insists that its own people is surrounded by “a world of enemies,” “one against all,” that a fundamental difference exists between this people and all others. It claims its people to be unique, individual, incompatible with all others, and denies theoretically the very possibility of a common mankind long before it is used to destroy the humanity of man.”
Hannah Arendt
A vitória de Trump trouxe consigo um fenómeno curioso: ele não apenas conquistou o Partido Republicano, mas o transformou em MAGA (Make America Great Again). Esta mudança não consiste num simples ajuste de marketing, ou “rebranding”, mas sim de uma transformação profunda que altera a identidade de um partido para a de um movimento. Num sistema democrático, um partido representa uma parte (sendo essa a sua origem etimológica), unida em torno de princípios políticos específicos ou da defesa de interesses de determinados grupos sociais. Em contraste, um movimento procura posicionar-se acima destas divisões, pretendendo englobar “o todo”, para além da ideia de confronto democrático.
Hannah Arendt observa que os movimentos diferenciam-se dos partidos tradicionais por se apresentarem como forças que vão além da democracia representativa. Estes movimentos tendem a mobilizar um ideal abstracto, fortalecido pela promessa de transformação sem um programa específico e legitimado por um inimigo comum, evitando detalhar acções ou compromissos políticos. No caso do MAGA, esta dinâmica manifesta-se num antagonismo constante contra “o outro” — seja ele “a elite”, “os media” ou “o sistema” — que é retratado como um obstáculo do regresso dos EUA à sua anterior grandeza. Este inimigo comum reforça a unidade do movimento e cria uma falsa aparência de consenso. Assim, a ideia de "fazer a América grande novamente" serve como ponto de unificação, mas permanece vaga o suficiente para permitir múltiplas interpretações e evitar compromissos específicos. A única exigência ao eleitorado é que confie na promessa de que o seu líder será capaz de tornar a vida das pessoas melhor: não têm um plano, mas “um conceito de um plano”.
Enquanto um partido precisa de apresentar um programa de políticas, o movimento pode evitar esse compromisso, pois constrói-se em torno de uma ideia expansiva, aparentemente infalível e inquestionável. Este aspecto torna os movimentos ameaçadores para a democracia, uma vez que mantêm uma postura intransigente, resistindo aos ajustes e concessões necessários para a manutenção do diálogo e do pluralismo democrático. Tudo o que seja contra “MAGA” são contra a grandeza dos EUA, contra a pátria em si e como tal devem ser considerados inimigos, que devem ser eliminados ou presos.