Mitómano Suburbano
"Jerry, just remember. It's not a lie... if you believe it..."
George Constanza
De vez em quando Passos Coelho gosta de desafiar a nossa credulidade. Desde alegar que não se recordava quanto ganhou mensalmente durante três anos a afirmar que desconhecia a obrigatoriedade de enquanto trabalhador independente de proceder às contribuições a favor da Segurança Social.
Na última segunda-feira deixou um novo desafio: "Há uns quantos mitos urbanos, um deles é que eu incentivei os jovens a emigrar. Eu desafio qualquer um a recordar alguma intervenção ou escrito que eu tenha tido nesse sentido." Sucede que neste caso havia registo audiovisual da afirmação que o Primeiro-Ministro nega ter proferido.
O que leva alguém a afirmar algo que sabe, ou pelo menos devia saber, que seria facilmente desmentido? Felizmente, já deixei de tentar perceber Passos Coelho, que, é bom lembrar, se define como "alguém que mede o que diz, que prepara o que decide, que não responde de forma irreflectida, que não é governado por impulsos".
No caso o mais relevante são os efeitos deste comportamento reiterado no valor da palavra e na viabilidade do discurso político, garante da existência de debate - um dos pilares da democracia. Esta degradação contagia todo o edifício, aumenta a desconfiança, a alienação e o cinismo. Toda a gente mente, sim. Mas sem o mínimo de probidade não há democracia que aguente.