Mentir, mentir sempre, negar tudo
Passa o tempo, e continua a ser surpreendente a facilidade com que estes pulhas persistem na mentira. Lembram-se das razões apresentadas para os cortes drásticos nas bolsas de doutoramento e pós-doutoramento? Eu lembro: tanto Nuno Crato como Miguel Seabra (presidente da FCT) vieram dizer que se deviam a uma alteração de base no modelo de financiamento da investigação em Portugal. A aposta deixaria de ser feita na investigação individual e os fundos passariam a ser canalizados preferencialmente para as unidades de investigação, que teriam a liberdade de gerir o seu orçamento e atribuir bolsas a quem entendessem, com menos intervenção da tutela e da FCT. E o que vemos, apenas três meses depois? O mesmo corte brutal no financiamento dessas unidades de investigação, que levará inevitavelmente ao encerramento da maioria, muitas das quais tinha classificação de "excelente" em anos anteriores. Pior, os critérios usados pelos avaliadores são incompreensíveis em muitos casos, e existem erros grosseiros na avaliação. O organismo contratado pela FCT (é sempre tão chique, contratar estrangeiros para tratar das nossas coisas) não tem qualquer crédito e está mesmo prestes a ser substituído por outro. Um exemplo: numa das unidades de investigação que ficaram sem financiamento, foi considerado um ponto negativo o facto de terem sido feitas traduções de Kierkegaard e Aristóteles para português, sendo sugerido por um dos avaliadores que os textos filosóficos deverão ser conhecidos e estudados no original. Em dinamarquês e grego antigo, portanto. Maravilhoso. Outro exemplo: o CIES-IUL também não vai receber fundos e um dos argumentos da avaliação é o de que a área das migrações e das desigualdades sociais está "esgotada" em termos de investigação. Brilhante.
Cortam a eito, sem qualquer preocupação com a qualidade da investigação, e mentem, mentem, mentem, sobre isso, desavergonhadamente. Digam-me lá o que esta gente merecia?