José Rodrigues dos Santos, herói dos nossos tempos
José Rodrigues dos Santos pode ficar por História por muitas razões. Escritor de renome quase internacional, besta célere dos nossos tempos, romancista de méritos que fariam corar de inveja qualquer Dan Brown, autor que cunhou a célebre expressão "sopa de mamas" (tão importante que está a um passinho de merecer uma entrada nos dicionários académicos da nossa praça), dos Santos tem atravessado a nossa época deixando uma marca imorredoura nos espíritos.
Os seus anos na BBC trouxeram-lhe o savoir faire e a competência necessária para usar do melhor modo possível o piscar de olho ao espectador na apresentação de serviços noticiosos. O gesto é tão significativo que só ainda não mereceu capítulos inteiros nos manuais de jornalismo certamente porque os teóricos do ofício andarão distraídos - e a genialidade está sempre à frente do seu tempo, tem sido assim desde sempre.
Dos Santos distinguiu-se também no campo da reportagem de guerra, sobretudo no que diz respeito ao uso de coletes cáqui no campo de batalha. São famosas as suas reportagens com Bagdad ao fundo, rivalizando com nomes como Robert Capa, Walter Cronkite, Anderson Cooper ou mesmo Leonard Zelig, o homem-camaleão. Há quem diga mesmo que dos Santos está para a Guerra do Golfo como George Orwell esteve para a Guerra Civil Espanhola. O livro que escreveu sobre as suas aventuras no deserto por onde em tempos andou Lawrence da Arábia é um testemunho vivo e entusiasmante do que é relatar a guerra sob condições extremas, praticamente insuportáveis, a partir de um quarto de hotel no Kuwait.
As suas reportagens em directo da Guerra do Golfo têm apenas um equivalente moderno: a odisseia levada a cabo numa Grécia em ruínas, devastada pelos horrores de um partido radical chamado Syriza. Heróicamente chamado a relatar a todos os portugueses a destruição em directo de Atenas, dos Santos correu inimagináveis perigos nas ruas da cidade, entrevistando furiosos comunistas fazendo-se passar por pobres na fila para a sopa, visitando bairros perigosíssimos onde a qualquer momento poderia ser atropelado por Jaguares e Mercedes em fúria pertencentes aos poucos gregos sensatos não-apoiantes do Governo extremista que ocupava o poder, culminando o seu valoroso trabalho com um feito que ficará para a História do jornalismo de investigação: a sua denúncia de todos os gregos que recebiam subsídios do Estado, todos falsos paralíticos. Um facto que não só alterou a visão que o mundo tinha da Grécia como pôs em causa dogmas bíblicos - são já vários os estudos publicados duvidando do célebre episódio do Novo Testamento em que Jesus faz um milagre, conseguindo pôr um paralítico a andar. De acordo com esses estudos, é quase certo que o paralítico era falso, e fingia apenas para poder receber um subsídio pago pelos impostos do ocupante estrangeiro, os romanos (que não tinham qualquer obrigação de pagar estas fraudes do povo judeu).
Os últimos dias têm sido marcantes para José Rodrigues dos Santos. Os sucessivos picos de adrenalina provocados pela vitória da direita nas eleições têm levado a uma melhoria na sua vida sexual, o que pode ter provocado um ou outro excesso. Só assim se compreende que no Telejornal de ontem tenha feito um comentário homofóbico sobre o deputado Alexandre Quintanilha. E, vá lá, não passa de uma piada bem disposta sobre a sexualidade do deputado - quer dizer, toda a gente sabe que os panilas é como se fossem gaijas, não é? Que mal tem ele ter dito "eleito (ou eleita)"? Já não se pode ser completamente javardo e pulha em directo para milhões de portugueses, querem ver? Esta praga do politicamente correcto ainda vai dar cabo do país, como os falsos paralíticos na Grécia. José Rodrigues dos Santos, um dos maiores portugueses dos últimos milénios, merece todo o nosso respeito. Vão-se catar, seus paneleiros.