Jornalixo: O futuro do entretenimento
A saída de José Sócrates da prisão de Évora, acontecimento que rapidamente foi transformado pelos media em alfa e omega da campanha eleitoral, permitiu-nos assistir a mais um episódio da variante de jornalismo que se tem tornado moda em Portugal: o jornalixo.
Vulgarizado pelo Correio da Manhã, o jornalixo caracteriza-se pela ausência de qualquer regra deontológica da profissão jornalística, e pela ênfase total da informação como entretenimento de massas, sendo a preocupação com os factos, a verdade, o bom-senso, ou até mesmo a simples decência, algo que não assiste ao jornalixo. Em vez disso, o jornalixo procura ser entretenimento para a audiência, fazendo apelo aos mais básicos instintos de quem tem a infelicidade de os ler, ouvir ou ver. Voyeurismo, inveja, vingança, entre muitos outros sentimentos nefastos, são a alimentação que o jornalixo procura fornecer à sua audiência. Tudo com um simples objectivo: fazer com que a audiência continue a se alimentar nos media que praticam essa forma de “informação”.
E isto, infelizmente, é algo que decorre naturalmente da essência do negócio da imprensa. O jornalismo vive de audiências, seja em que formato. Antigamente, as pessoas compravam jornais para se informar, mas as rádios, revistas e televisões sempre tiveram múltiplas funções. A informação andou sempre a par do entretenimento, e em grande medida é o entretenimento que financia a comunicação social de massas. Nessa perspectiva a informação fornecia o glamour e a respeitabilidade, enquanto o entretenimento fornecia o financiamento. Mas o mundo mudou.
Com a ascensão da reality TV, os media ficaram cientes que as audiências já não se regiam pelo paradigma do séc XIX. A informação podia andar de braço dado com o entretenimento. Aliás, a informação podia ser entretenimento. Para isso bastava abandonar os critérios deontológicos do jornalismo, e fornecer aquilo que as pessoas realmente querem ver, desejam ver, odeiam ver, mas não conseguem parar de ver: o jornalixo.
Onde é a casa que Sócrates vai viver em prisão domiciliária? Vamos dizer a morada a cada 5 minutos. O que ele vai comer? Quem o visita? Como são as paredes? E o tecto? E a casa-de-banho? E Sócrates? Como se veste, come, urina? Tudo isto, o jornalixo fornece. Tudo isto, as pessoas não deixam de ver.
Isto é o futuro do jornalismo. Inevitável porque se já não servem como fornecedores de notícias, visto que a internet e as redes sociais já ocuparam esse nicho, mais vale ser entretenimento. E quem não gosta, vê/lê/ouve outras coisas.