Ironia
Teresa Leal Coelho já nos tinha surpreendido com a sua noção de independência dos deputados: não respondem perante os eleitores, mas a quem lhes financia o debate e o vencimento, que na altura de tal afirmação seria, segundo ela, a Troika. Presumo que agora que o Estado regressou aos mercados...
Na sua última entrevista ao "Público" a Vice-presidente do PSD brindou-nos com mais um conceito novo: a conduta dos nomeados politicamente deve seguir os ditames de quem nomeou. E eu que julgava que estes deviam cumprir as suas funções de acordo com a melhor das suas capacidades, tendo como fim último a prossecução do interesse público (que, ao contrário do que por vezes parecem supor, não é sempre coincidente com os interesses do Governo).
Felizmente, o legislador não é ingénuo como eu, pelo que de forma a garantir a total independência dos Juízes do Tribunal Constitucional o seu mandato tem a duração de nove anos e não é renovável.
No entanto, admitindo-se por mera hipótese académica tal interpretação da função dos Juízes do TC, não deixa de ser curioso que uma deputada que apoia o Governo acabe a queixar-se que os juízes do Tribunal Constitucional criaram na sua candidatura uma ilusão de uma determinada visão filosófico-política que não teve correspondência na prática - oh a ironia.