Gravitas
A palavra não é um mero instrumento discursivo, uma ferramenta cujos respectivos sinónimos são equivalentes. Cada palavra transporta em si mesmo uma carga emocional, ideológica, histórica que transcendem o seu significado literal.
Van Morrison fazia questão de desconstruir: cantava em loop gloves loves loves gloves gloves loves gloves, triturava, mastigava como o Bexiguinha, as palavras até perderem todo o seu sentido, todo o seu poder, restando o som, a fonética, um simples mantra.
O mesmo acontece com personagens históricas. Em 2012, a Mercedes-Benz usou a imagem de "Che" Guevara para tentar vender carros de luxo. Por cá a Câmara Municipal de Santa Comba Dão procurou rentabilizar a marca "Salazar". E numa discussão é quase impossível não se encontrar comparações a Hitler.
O uso excessivo destes "símbolos" vai pouco a pouco erodindo a sua importância (porventura este terá sido o fundamento para a blasfémia), tornando-se simples caricatura, sem peso, sem gravitas.